Salete. Seu belo e comovente texto “O Banquinho” reporta-nos ao dito de que os objetos tem alma. Refletindo, porém, vemos que eles apenas pegam a nossa emprestada. Empregando no tema outras proporções, teremos por exemplo um carro que, mesmo já velho e gasto nos deixa desolados quando roubado. Um disco ou um livro que desaparece negligentemente. A força de um utensílio antes inseparável de alguém que amamos e que já partiu. Eles retratam momentos, sentimentos, memória. E sua perda transcende o valor econômico. E numa proporção bem maior, caminhando nesse rumo de divagações, chegaremos a ter a inimaginável sensação do que deve ser um exílio. Ter que deixar violentamente a cidade onde se nasceu e cresceu. Onde cada rua, cada ponte, cada praça, árvore ou casa traduzem uma vivência, uma história, um coletivo de emoções. Uma vida, enfim. A violência por que você passou junto ao seu banquinho, involuntária, é claro, pode ser uma pequena amostra da enorme perversidade do exílio. Parabéns.
Daniel.
Fevereiro de 2004
Daniel Carrano Albuquerque
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