Sabem como é, a gente sofre os reveses desta vida, tem os desgostos, os fracassos, as decepções, os desenganos, as frustrações, os desesperos, as mágoas, os dias amargos, as noites de insônia, as esperanças emurchecidas, os sonhos desfeitos, as amarguras, o caos emocional, o stress, as desavenças que causam tanta aflição e a vida é tão curta!
Aí a gente vai se recompondo, "criando marra" como costumam dizer por aí a fora, forrando a alma com uma proteção a mais, fabricando razões mentais para suportar o fardo de tais impactos, recuperando o equilíbrio e o controle sobre as nossas emoções, perdoando as falhas dos outros para que possam contemporizar e perdoar as nossas próprias falhas e, ainda, temos que considerar a brevidade da vida.
Sim, perdemos muito tempo com as diatribes, as querelas, as pendências, os desentendimentos, esquecendo como o tempo é fugaz, como é efêmera a existência.
Mas, por força das desigualdades, porque as almas raramente são gêmeas, em virtude de os nossos olhos se fixarem em ângulos ou prismas diferentes, sendo certo que a "linguagem é fonte de mal entendidos", as relações que travamos, como as nuvens carregadas de eletricidade,provocam tempestades tropicais, trovões, relâmpagos, instabilidade.
Daí ser conveniente e recomendável redobrarmos esforços para conviver harmônicamente, saber relevar as coisas pequeninas, deixando-as na sua dimensão exata, fugindo dos "cavalos de batalha", dos ódios impetuosos, das iras momentâneas, da fúria incontrolável, do rancor, da queixa que não morre.
Tudo passa, tudo caminha para o olvido, até mesmo as boas recordações que, paulatinamente, vão se descolorindo na nossa memória e, de longe em longe, reacendemos as suas luzes para ter um pouco da felicidade que nos proporcionaram um dia.
Todos estes pensamentos me acudiram neste instante porque, viajando por terra de Teresina para Fortaleza, regressando da fazenda onde passamos o carnaval, dei asas ao meu pensamento e fui recordando momentos agradáveis com figuras que povoaram a minha meninice e a minha mocidade: minha avó Ana, sábia mulher que a morte veio supreender mais que centenária, fonte de muita coisa boa da minha educação, puxando o pente que prendia o coque, procurando pentear o meu cabelo liso e rebelde e, rindo para as moças que passavam pela rua, em frente à janela, dizia: "estão admiradas, uma vó não pode pentear o neto?"; minha avó Sarah, tão espirituosa, cheia de ditos: "dê lembranças minhas a quem nasceu nu"; o Coronel Chico Alves, avô de minha mulher, contando-me a história dos tres amigos, que reproduzi num de meus contos...Tantas recordações boas, tantas pessoas saudosas que já se foram desta vida...E o caminho à nossa frente convidando-nos a experimentar mais da vida, a vida tão cativante e bela desde que saibamos ser mais fraternos!