Não acredito em aclive e declive
Para a sexualidade...
O encantamento pela vida
O desabrochar...
Tudo isso está sempre emergente
Brotando a cada dia
A cada minuto que se queira
Que se preste atenção no que importa.

E o que importa?
Quem faz o marco?
Quem diz que "deveriam estar em declínio"?...
Eu veementemente me recuso
Me nego a aposentar a vida
O coração... O corpo!...
Antes aposentar a sociedade
E toda a hipocrisia subcutânea.

Para baixo do tapete
Com o falso-moralismo
Com a condenação do prazer
Com a inveja do gozo!...

Eu gozo... Gozo muito...
E gozo escandalosamente
Como as flores
Ao abrirem suas pétalas
Acenando com o pólen às abelhas
E aos beija-flores...

Gozo como a cascata
Despencando lá de cima
Se estatelando em espuma cá embaixo...

Gozo como o trovão e o relâmpago
Urrando a felicidade de ser chuva...
Como a estrela cadente
Pedaço de qualquer coisa astral
Gozo como o sonho de poeta
Gozo como só os animais livres
São capazes de gozar.

Livre! Eu quero ser livre!
Livre de tudo que é prisão.
Que venha o amor...
A genitalidade... A espiritualidade...
A loucura... A inconseqüência...
A maturidade e a adolescência
Que convivem no mesmo tempo e espaço
Na mesma dimensão de cada minuto de vida.

Eu gozo nos almoços de Domingo
Nas festas de aniversário
Nas pequenas implicâncias
Broncas... Trabalho... Aspirina...
Café demais... Olhares demais...
Glamour demais... Prazer demais.

Vamos sim dançar coladinho
E separadinho também...
Ouvir murmúrios de amor baixinho
E... Porque não?... Os gritos.

Nada de escassas emoções...
A vida me reserva futuro
E me dá presente...
Essa inquietude é a dor de saber...
É a diferença entre querer e temer
É o medo... O medo de perder
Esse gozo contínuo
Esse orgasmo de vida
Que transborda a cada respiração.

Não há erros do passado
Há caminhos diferentes
Contornos da estrada
Atalhos ou caminhos mais longos
Mas todos levam a Roma
Que... Ao inverso... é AMOR!...

Como pode haver fracasso na poesia?
E como resistir ao maior
E mais belo de todos os poemas: VOCÊ?...

Se tivesse casado mais velha
Seria infeliz por ter sido solteirona...
Se tivesse transado com o Miguel
Poderia ter pegado herpes...
Se tivesse feito faculdade de Direito
Não escreveria tão bem quanto hoje.

Começamos a fumar por burrice...
Ninguém é perfeito...
Se tivesse ido morar no exterior
Não conheceria essa grande amiga...

É... Criatura...
Tudo tem seu jeito de ter jeito
E ainda vou te dar um jeito...
Arrependimento?...
Não existe no dicionário
De quem vive...
De quem tem capacidade de amar e lutar
De dar a volta por cima.

Haja poeira!
Não haveria a menor graça
Se tudo fosse linear...
Nossa!... E como vale a PENA!

Não... Não se trata
De perder amizade... Solidariedade
Companheirismo de anos de convivência...
Trata-se de emoção...

A vida a dois vai perdendo terreno
Para a acomodação...
Há necessidade de desejo...
De fogo... De inquietude...
Tudo isso é vida.

Essa angústia... Essa dicotomia
Surge do eterno medo do escuro...
Ninguém nasceu pra ser sozinho
Ninguém quer perder...

Tranqüilidade? Segurança?
Como viver só e mais velha?
Se ficar doente... Quem há de cuidar?
Não é isso... Trocar o certo pelo duvidoso?
É humano pensar
Em si mesmo em algum momento...
Depois de tanto pensar em todos
Resta-nos a solidão do chuveiro...
Do banheiro... Do travesseiro...
E a impressão magoada de trair
A confiança do outro...
Afinal... Ficar por amizade
E medo do futuro
Não deixa de ser um egoísmo
Aceitável socialmente... O previsível.

E onde encaixar o imprevisível?
Quais as alternativas?
Você sabe... Você sempre soube...
Só não quer ver!...

Acorda... Mulher...
Hoje é o dia seguinte de ontem...
Pois é... E ainda tem amanhã...

E por isso eu gozo... Gozo... Gozo!...

Lilian Maial

Gozo... Gozo... Gozo...
Porque busco sempre além do sofrimento
Mais dor ainda... Como se fosse alívio...

Horas... Dias... Meses... Anos...
De intensa dor
E assim obtenho o esplendor
Que vale a pena viver
E vale muito mais a pena do que esperar!...

E todos... Todos somos assim irracionalmente
Gente programada pela natureza
Em automática defesa...

Só que... O raciocínio trai-nos...
Induz-nos a parar no tempo
E isso... Sim... É sofrimento...

Por isso... Eu gozo... Gozo... Gozo...

Torre da Guia = Portus Calle