Que mais posso dizer? Sim, voltei de alguma filial do inferno ou coisa assim. Fui viajor de todas as tormentas e procelas, bordejei pélagos, assumi riscos de muitas escaladas nas montanhas mais íngremes e cobertas de neve,caí na cratera de alguns vulcões, queimando todo o meu corpo, passeei pelo vórtice de todos os furacões, atravessei desertos sofrendo sede, cansaço e desesperança, andei pelo "front" de mil batalhas estultas, desci ao fundo de minas irrespiráveis, fui sequestrado por tribos bárbaras e selvagens, embrenhei-me na selva atrás de povos incultos, dormi ao relento, sentindo em meu corpo o frio úmido da chuva, fui atacado por mosquitos, cobras e escorpiões, jogaram-me às águas frias do Atlântico Norte, chorei, gritei, respirei a fumaça de centenas de refinarias, fui longe, muito longe, mas retornei.
Eis-me aqui retemperado, curtido, transformado, maduro, purificado, nascido outra vez.
Meu olhar agora enxerga os longes, os impossíveis, os por-fazer e, para tudo têm uma explicação, um lenitivo, uma solução, um modus faciendi.
Sou um viajante intemporal, um mergulhador no rio-vida, escafandrista da verdade universal, mago de todas os espetáculos, presdigitador, encantador de serpentes, mediador, futorólogo, repentista, rimando tudo com nada, amor com ódio, sofrimento com amenidades...
Voltei para punir quem me causou tanta dor: escreverei tudo, maltratarei seus ouvidos, ferirei seus olhos, atormantarei suas vidas.
E, quando a noite chegar, cabeça no travesseiro, apascentarei os meus sonhos coloridos, dormirei aguardando o renascer que brota na luz de todas as manhãs, na luz incomparável de todas as manhãs.