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Cartas-->Nova carta ao Fernando Rossas -- 04/04/2004 - 16:26 (José Ronald Cavalcante Soares) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Meu prezado e dileto amigo Fernando, você realmente está perdendo o seu tempo quando me envia os artigos, cartas e depoimentos tentando explicar o inexplicável, querendo tapar o sol com uma peneira," desobviar" o óbvio.
Olha, eu até admiro a sua fidelidade, uma lealdade rara nos dias que correm, quando os indivíduos, ao menor sinal de mau tempo, abrem guarda-chuva da indiferença, fogem das pessoas e das coisas que lhe deram abrigo, demonstram aquela ingratidão e aquela deslealdade ostensivas e tão ruins de se suportar.
Mas, prezado Fernando, nenhum dos articulistas, nem mesmo a inteligência brilhante do seu irmão Aderbal, conseguem camuflar a minha bruital decepção.
Eu me preparara como uma criança se prepara para a sua primeira eucaristia, roupinha branca simbolizando a pureza, coração leve e solto, cabeça desanuviada, esperanças como tochas verdes iluminando os meus pensamentos.
Cuidei que o governo, eleito tão expressivamente, reacendendo no povo bom do meu país as luzes dos soinhos mais longamente acalentados, jamais decepcionaria. Vã expectativa, meu caro. Os desenganos vieram mais cedo do que poderia supor. Os gestos, as posturas, as manobras, a indeferença aos doridos apelos dos desesperados, tudo veio de roldão, tudo chegou de inopino, desmascarando as promessas falsas da campanha.
Lógico, eu sei dos compromissos que a nação assumiu a nível internacional, mas, extorquir os velhninhos da previdência! As viúvas! Os órfãos! Colocar os idosos nas filas dos bancos! Declarar tanta coisa odienta!
Meu Deus!
Bem, Fernando, admiro a sua boa vontade e sua disposição de missionário, mas, comigo não.
Já debandei do comboio desde que ele não parou na primeira estação onde deveria ter parado.
Já fechei a porta dos meus devaneios e caí na real, o que, convenhamos, nesta altura do campeonato, depois de tantos desencantos, é triste, amigo, muito triste.
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