Sou um sobrevivente
(Este texto é um depoimento e antes de tudo uma súplica para os jovens)
Já se passaram quarenta anos que optei por uma vida errada. O caminho que eu percorri por esse longo tempo foi árduo e sofrido.
Ao meu lado havia crianças e jovens, me acompanhando, nesse mesmo trajeto - eu tinha oito anos de idade quando fumei o meu primeiro baseado (cigarro de maconha) - e hoje eu tenho notícias de um ou dois deles que conseguiram chegar a algum lugar, por puro milagre, como eu.
Sou um dos poucos sobreviventes, pois a maioria das pessoas que eu conheci, na vida que levava, estão mortos e uma minoria sobrevive em cadeias do Brasil.
Fui uma criança que conheceu muito cedo as drogas. Tornei-me um adolescente viciado e vivi uma vida de sofrimentos desnecessários e indescritíveis. Sofri muito, mas quem carregou a parte maior desse verdadeiro padecer foram meus pais e as pessoas que me amavam.
De todo o sofrimento causado pela vida que levei eu fui o único culpado. Tive o direito de escolha e optei de forma errada. Paguei pelos meus erros com muitas lágrimas sofridas e um Deus benevolente teve pena de mim permitindo que eu sobrevivesse.
Tudo é diferente agora.
Sou um pai de família realizado que tem quatro filhos maravilhosos e uma esposa que é uma ótima companheira, mas é impossível apagar de minha lembrança as lágrimas choradas pelos que me amavam. Os sofrimentos que causei a outras pessoas, mesmo sendo uma pobre criança inocente e vítima do que fazia, jamais terá o meu próprio perdão.
Meus queridos jovens, fumar um baseado pode até ser uma fuga das dificuldades. Levar vocês a terem uma ilusão de liberdade e lhes dar uma sensação de leveza, só que um dia o peso que terão de carregar talvez seja excessivo. Não há volta nesse caminho e as lágrimas que nele derramamos não nos trazem alívio, somente nos sufocam e o nosso sofrimento faz sofrer também a todos em nossa volta.
Pelo amor de Deus gente, digam não as drogas. Não façam com suas mães e com as pessoas que os amam o que eu fiz.
CARLOS CUNHA
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CARLOS CUNHA/o poeta sem limites
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