Esta vai para você, caçula, que vive ultimamente distanciado na geografia espacial, mas sempre muito presente na geografia sentimental. É que eu, paizão nordestino, cultivador da idéia de que os pintinhos devem estar debaixo das asas da galinha,ainda não me acostumei de todo com duas realidades básicas: primeiro, você é adulto; segundo, os filhos, na verdade, são cidadãos do mundo, não são propriedade nossa, possuem autonomia, personalidade, individualidade e a indefectível exclusividade, pois não existe nenhuma criatura que se repita na face desta terra que Deus nos reservou para morar e viver.
Mas, como você está aqui conosco presentemente, quero aproveitar esta oportunidade que está se tornanda rara, para abrir o meu coração e dizer as coisas que vivem guardadas nos refolhos da alma. Em primeiro lugar, uma obviedade: eu lhe quero muito bem e muito admiro a sua coragem de abrir o seu caminho em plagas tão distantes, sem se importar de ser um estrangeiro, com a cabeça erguida, confiante no êxito que se avizinha, baseado naquele lema que eu tantas vezes lhe repeti: "todo homem realiza o seu sonho, por maior que seja o sonho, por menor que seja o homem".
Pois bem, muitas vezes, quando eu paro ao final do dia repleto de azáfama, meu pensamento segue até onde você se encontra, procurando lhe dar uma força, pedindo ao bom Deus que ilumine o seu caminho e suavize as pedras da caminhada. Sua mãe e eu, tantas vezes, nos surpreendemos recordando fases da sua vida, de como você, desde cedo, mostrou a sua vocação e o seu desejo de subir.
É salutar esta vontade de crescer, harmonizando as nossas emoções com o todo do universo, pois somos parcela infinitesimal dele, destinados pelo Pai a exercer uma missão cá na terra.
O nosso desejo ardente de pais, as nossas orações, estão direcionadas para o crescimento do nossos filhos, para que eles possam merecer nas comunidades onde vivem e trabalham, o respeito e admiração das pessoas, de todas as pessoas com quem convivem.
A gente escreve e recebe cartas, muitas delas, com o passar dos dias, nós arremessamos ao lixo e delas nada nos fica; outras, no entretanto, contêm palavras que ficam arraigadas em nosso mente, conceitos que se engastam na nossa alma e a gente, então, guarda com carinho num canto qualquer e, vez por outra, nos momentos em que precisamos de apoio, eis-nos retirando-as do arquivo, relendo-as com atenção e, a cada releitura nos sentimos mais reconfortados, na certeza de que, em algum lugar deste mundo, existem pessoas que nos amam e nos desejam sempre o que há de melhor.
Com o afetuoso abraço do seu pai
RONALD
