Há 36 anos que trabalhava na organização, e sempre fui um crítico insolente, para não dizer um chato de galocha. A minha mania de viver o dia do amanhã, deixava-me deveras preocupado com o futuro da empresa, que na verdade seria o meu futuro. Por essa razão acredito que não era um bom líder e nem tão pouco o simpático bancário dos anos 70. Assim mesmo tinha alguns que acreditavam em mim e outros que repudiavam as minhas idéias. Por essa razão, na verdade , só trabalhei 18 anos, porque os dois que andava na frente só acontecia depois de quatro anos. Quando a minha idéia era aceita o mundo já tinha mudado e eu já estava em outra. Assim o que acontecia era que em cada quatro anos eu só trabalhava dois, sempre esperando pelo banco. Mas, voltemos agora ao nosso Econômico:
Nosso banco tinha um nome certíssimo para a atividade só que não fazia a economia necessária que o seu nome indicava. Nosso antigo controlador queria que o Econômico fosse o MAIOR e MELHOR banco até o ano 2000. Aí foi o seu primeiro erro: Eleconfundiu palavras com matemática. Enquanto na matemática a ordem dos fatores não altera o produto, a ordem das palavras alteram o todo. Para ser o MAIOR , o banco teria primeiro que ser o MELHOR. Ninguém será o maior se antes não for o melhor. Se o maior fosse o melhor, rico não compraria automóvel, só andaria de Caminhão.
Outro erro fatal foi a maneira de fazer os orçamentos. Como o Brasil, o governo primeiro calcula as despesas e depois procura onde vai buscar as receitas. No Econômico também. Fazia-se o orçamento das despesas e depois procuravam adivinhar as receitas. Sempre fui contra esse sistema, que salvo engano teve origem em Portugal. Ora, quem trabalha com dinheiro, primeiro precisa saber o que vai ganhar para depois ver qual é o mínimo possível que precisa gastar para adquirir aquele ganho.
Quando o Econômico pegou a virose da decadência, há cerca de quatro anos, caiu em outra cilada chamada reunião. Sim colegas, REUNIÃO ! - No último ano houve tanta reunião, que o tempo gasto com elas foi maior do que as horas trabalhadas. Lembro-me que no primeiro semestre de 95, havia reuniões em todos os níveis do Banco. Desde a Diretoria, a eterna Reunida, até a mais insignificante agencia do extremo norte. Houve dias que não consegui falar com ninguém em parte alguma pois todos estavam em reunião. O pior é que as reuniões eram programadas para locais diversos dos respectivos trabalhos e as agencias, nossa fonte de receitas, estavam acéfalas. Além disso havia diretores que ficavam mais tempo no ar do que no solo. Os Diretores viajavam tanto que alguns nas épocas de férias, preferiam ir pescar ou ficar em casa. Isso tudo parece cômico, e é, mas não era econômico, embora fosse no ECONOMICO. Há 5 anos que o Banco tinha Canal de Voz e aparelhos de viva-voz em seus pontos mais importantes mas não eram usados em substituição aos AVIÕES e HOTÉIS de 4 e 5 estrelas. Um belo desperdício para quem já andava cambaleante. Além das memoráveis mordomias, o número de CACIQUES era monstruoso. Vez por outra é que se via uma flecha de um índio, assim mesmo disparada contra os próprios, ora nas agências, ora nas Superintendências e até entre os Príncipes regionais.
Como sempre fui irreverente, face as minhas críticas e soluções "futuristas", não sei como me agüentaram por tanto tempo. Agora já tenho uma idéia porque me suportaram. Foi outro erro do banco. A disciplina não era muito rígida e pessoas com meus defeitos conseguiram sobreviver.
Lembro-me que quando auditava o crédito nas agencias, apontando operações mal feitas com risco total e autorizadas por superiores, costumava perguntar aos Gerentes e superiores o seguinte: Vocês emprestariam a esse "cliente"se o dinheiro fosse seu ? - Na verdade, ninguém nunca me faltou com a mentira.
Por estar falando dessa maneira vocês devem pensar que eu vou fundar um banco para mim. Na verdade bem que tive vontade mas o dinheiro que recebi do Excel não foi tão generoso como o de alguns mais afortunados, e já que não sou uma pessoa muito ambiciosa, não gostaria de causar preocupações ao novo banco, como um forte concorrente. Outro fato que me fez desistir além do dinheiro, foi que depois de meu banco fundado, esse pessoal falador iria dizer que criei meu banco com o rombo do Econômico. Como sou um admirador profundo do feminino, em vez de BANCO, vou abrir uma BANCA de Advocacia e Consultoria Fiscal, que, aliás, foi o que mais fiz na minha vida, para clientes do Banco e amigos, só que, GRATUITAMENTE.
Para fazer justiça ao novo banco (Excel), não poderia omitir o honroso convite que tive para continuar na Auditoria. Declinei, por ser em Salvador já que isso provocaria um grande problema na minha família.
A vocês que ficam, tanto os que gostavam de mim como os que estavam sempre na oposição, desejo que o novo Banco, não seja simplesmente um Banco para sempre, mas, um eterno Banco para sempre. Para que no balanço do ano 3000 possa ele continuar para sempre, vocês que são as sementes do futuro da nova organização, não podem esquecer tudo aquilo que nós ÏNSÍGNES SAINTES passamos.