Eu vinha pensando em fugacidades, nos tempos fugidios, nas coisas efêmeras quando, abrindo a minha correspondência, vinda de um amigo, deparei-me com uma mensagem enternecedora: um homem maduro chega a uma clínica médica para fazer um curativo num corte em sua mão. Dizia-se apressado, pois tinha um encontro. Perguntaram-lhe qual o motivo de tanta pressa: é que vou ao asilo de pessoas idosas. Tenho um encontro com minha mulher. Todos os dias tomo o cafe da manhã ao lado dela. Ela tem Alzheimer avançado. Perguntaram-lhe se ela o reconhecia. Não, há cinco anos que não sabe mais quem sou. Então, por que razão o senhor tem tanta pressa se ela nem sabe quem o senhor é? Ora, ela não sabe quem sou, mas eu tenho certeza de quem ela é.
Que belo exemplo de amor. Amor por inteiro, amor que sabe que nem pode mais ser correspondido por absoluta incapacidade mental do outro ser, porém, ainda assim, amor. O verdadeiro amor não conhece barreiras de tempo nem de espaço, ele suplanta até mesmo aquela saudade dos mortos que, no dizer de José Américo de Almeida, é a única saudade que não conhece as promessas do tempo.
Valeu, Borjão, com a sua mensagem tão simples você trouxe um alento novo à minha vida nesta manhã de 08 de julho: o alento de quem volta a acreditar na humanidade, na esperança de que, apesar de todas as brutalidades e asperezas desta vida, ainda existe quem ame assim.