O relógio marca 18 horas de uma sexta-feira... a minha primeira vontade é sair pelas ruas, sem direção... caminhar muito, desgastar minha ansiedade. Os cigarros me esperam dentro da bolsa, agora a bebida. Preciso controlar, controlar tudo... o riso, o choro, minha insana poesia... eu – este eterno abismo que me persegue, quando levanto da cama e tenho um coração, bem maior que a minha bagagem de fantasia e enredo. Estou sozinha e repleta de sentimento, como o peito cheio de leite, sem cria pra alimentar. Entrego meus medos nas mãos da sorte e seja o que Deus quiser. Me visto de alegria, escondendo as falhas da minha alma sempre triste e me disfarço em carícias, tal qual dama da vida, para poder ser tocada por um tempo maior. Difícil que alguém me perceba assim... na verdade, jamais alguém pensaria nisso... mas quem sabe um dia, esse jogo, difícil de jogar, seja transformado em verdade, onde eu tenha o direito de falar do que preciso, de como estou, do que eu gostaria... talvez este dia nunca chegue, poderia sufocar o limite... vivemos dentro dos limites, porque é assim que somos equilibrados... sem cobrança... mas como eu queria gritar que preciso desesperadamente ser vista apenas como um ser humano, cheio de carências e defeitos e perdas e anseios e uma puta vontade de ser feliz. Infelizmente minha cara e meu jeito não revelam tudo isso e por dentro padeço da dor dos dementes, de viver em completa farsa, porque quando meu coração se abre, soa como se fosse um momento e eu tão desarmada... me calo, esperando por uma próxima vez.