Mãe, estou só como nunca antes estive, parece que até só de mim, e tudo ao meu redor é frio e distante, as árvores estão nuas, o céu nublado, as pessoas estão mais cruas e o tempo lento e calmo.
Dói demais, e essa dor, surpreendentemente é nova para mim, de todas sentidas por mim, e foram tantas, que meu corpo já cansado pede um tempo, férias, um descanso que seja. Mãe, meus olhos estão negros, e meu coração petrificado e teso, que bate dentro do meu peito de gelo.
Eu quis todas as mulheres, e tive todas que eu quis, e só por elas posso ser assim, encantador de palavras, sensível quase transparente, e por elas, morri ontem. Mãe, acredite, elas são lindas, e tudo que eu faço é por amar demais, eu sou um sedutor barato de bar, e sei quando, como e quem encantar, mas errei, errei por acreditar nessas basbaquices que lhe digo, e ser um inveterado apreciador do encanto, do amor mágico, meu Deus, elas me encantam e eu sou fraco.
Mãe, estou sozinho novamente nessa imensidão do Universo, vagando numa cidade qualquer, num país qualquer, numa órbita qualquer, solto ao bel prazer das energias cósmicas que se entendem perfeitamente, flutuando num espaço infinito e negro, tentando pegar estrelas, ah, como eu queria voar agora, ficar leve novamente.
Eu ainda não sei o que eu perdi, ou se perdi ontem, ante ontem ou ano passado, mas perdi algo grande que percebo agora porque desabou parte do meu peito, e olhando dentro não se vê nada só um vazio intenso. Fechei o olho e fui navegando nesse mar que aceitei, vez revolto, mas na maioria das vezes calmo, por isso navegava sem reparar muito, aceitando uma situação que se não terminasse como terminou, terminaria como não terminou.
Mãe, agora quero parar para pensar, descer do barco, evitar o mar, agora o que me resta a fazer é mergulhar na dor que sinto, para me ver de frente e me questionar: _E agora, onde você quer chegar!!!