Como um simples objeto é capaz de criar vida, não?
Da sua infância, guardei aquele suporte para seus pés não ficarem balançando quando você tocava piano. Agora ele está sob o móvel do computador. Olho para ele e rebobino a fita...
Você apóia os pés no suporte, sua postura fica perfeita e o encantamento começa. Seus olhos brilham e seus dedos dão vida a uma sensibilidade que aflora com mais e mais intensidade. Os sons nascem belos, cheios de significado, e preenchem toda a casa e todo o meu coração.
Vez por outra estou a seu lado. Minhas mãos mais as suas iniciam um concerto. Nossa afinação é perfeita. Nem parece que você é tão pequeno e está tão no início de uma jornada musical. Olhamos a partitura e o maestro é nossa troca de olhar. Entendemos que os olhos falam por nós, ditando o tempo e a harmonização de cada melodia. Passeamos pelo teclado como se fosse nosso caminho de casa. Vamos e voltamos completamente à vontade. E a felicidade é o instrumento que nos acompanha.
A fita continua com cenas de rara beleza...
De repente, neste exato momento, a fita é interrompida pelo mesmo suporte onde meus pés se apóiam para garantir minha boa postura ao digitar.
Você é um homem feito, pleno de atividades, firmando seu papel na sociedade, mas guarda, intacto, o bom coração do menino. Olha o mundo com um olhar amplo, preocupando-se com o bem estar das pessoas, sem distinção. Os amigos são grandes bens. E a família é coisa pra lá de séria – faz questão de protegê-la e mostrar todo o orgulho que sente por ela.
Não estamos sempre juntos, nem tocamos mais a quatro mãos, mas trazemos a música dentro de nós e continuamos a nos entender pelo olhar.
Até a próxima seleção musical
Cheila
