Encontro, por acaso, o amigo que não via há meses. Sempre fora magro, mas agora está muioto mais. Sempre tivera o olhar triste, aqueles olhos azuis por trás das lentes que, mesmo sorrindo, davam uma idéia de solidão, tristeza e amargura, mas agora estão transbordando de medo e de desesperança.
- Estou desenganado pelos esculápios!
- O quê!?
- D-e-s-e-n=g-a-n-a-d-o!
Um caroço na coluna do tamanho de uma laranja. Os médicos "competentes"nunca souberam diagnosticar a causa das minhas dores na coluna. Agora, com uma ressonância, localizaram o tumor. Mas é tarde demais.Tenho pouco tempo de vida.
Olhei demoradamente para ele. Havia resignação na sua voz pausada e triste.
Procurei anima-lo com palavas de incentivo que, aos meus próprios ouvidos soaram como moeda falsa. Não que estivesse com hipocrisia, mas na verdade eu não estava sabendo o que dizer.
Quando nos separamos, percebi que nem mesmo o indefectível cumprimento de bater fortemente palma
com palama de nosssas mãos fora dado com aquele calor de sempre.
E eu fiquei aqui comigo refletindo demoradamente sobre a fragilidade da vida. O nosso complexo de vaidades e orgulho desmorona ao rápido desligar de um fiozinho de nada. Com o um gesto simples o destino, esse mago-vilão, rodopia o pinhão da nossa vida e, logo adiante, com outro gesto rápido e inesperado, o faz parar.
Ali seguia, cabisbaixo, o meu amigo, carregando na mente as incertezas de um diagnóstico tardio e cruel, sem saber ao certo de vai viver, como ele mesmo arrematou, uma semana, um mês, um ano.
Numa semana, num mês ou num ano, o ser humano é capaz de fazer ruindades ou seguir na imitação de Cristo, no rumo da paz, da fraternidade e do amor.