Estou aqui outra uma vez, fazendo e tomando providências para iniciar, no próximo ano, mais um período de convocação na Corte Superior. Ao meu redor, estagiários e servidores mariposeando, enxameando em torno dos processos - flores de odor acre e curioso - que jamais cessam de surgir, num desabrochar interminável, carecendo sempre de cuidados especiais, na eterna luta contra o tempo. Hoje, por não estar ainda no batente, posso dar-me ao luxo de escrever estas linhas-depoimento, enquanto o coração, antecipando a azáfama imensa que me aguarda, parece saltar do peito. O pensamento turbilhona, há reações desencontradas que parecem brotar das paredes, das estantantes, dos autos com capaz rotas pelo manuseio de tantos e tantos anos.
Pensa um pouco nas esperanças dos jurisdicionados, que nos mais distantes rincões deste nosso país tão gigantesco, ficam seguindo a lenta tramitação dos seus processos, imaginando: será que este novo juiz dar´[a conta do recado, vai julgar o meu processo?.
Estou cercado de livros, processos, papéis. Esta sala pequena será meu mundo por seis meses, a partir de fevereiro. Lembro-me das lições de Leonardo Boff na sua análise do salmo 23: os homens se distanciam tanto do mundo espiritual...mas, afinal, o Senhor é o meu pastor...nada me faltará...
Estou tranquilo. Estou ciente de que é mais um desafio na minha vida, mas eu sei que não estarei sozinho...Dando-me forças e inspiração para bem julgar, Deus estará comigo. É o que me basta.