por: (ztoecica)-Fernando Antônio Barbosa Zocca 22-01-2005 / 17:06:49
GENÉSIO, AQUELE VAGABUNDO
Fernando Zocca
Em Tupinambica das Linhas, existia um médico que confundia rinite com inflamação nos rins. Ele viera da periferia da cidade, e por causa da idéia de que era um coitado, facilitaram-lhe, por meio de fraudes no vestibular, seu ingresso na faculdade de medicina.
INCONGRUÊNCIAS LITERÁRIAS
1. Falta situar a história no tempo.
2. Linguagem coloquial, pobre.
3. Frase longa confusa, cheia de interladas.
4. Construção infantil. Numa só frase, a personagem é referida por: ele, lhe, seu.
5. “...por causa da idéia de que...” Essa construção não é usada em linguagem coloquial. Muito menos em texto literário
6. “...era um coitado...” é obsceno e hilário.
Quando seus pais se estabeleceram no coração da urbe, envolveram-se com o jogo do bicho. Assim, toda malignidade inerente à contravenção apossou-se da família. O adultério, as mentiras, homicídio, loucura e corrupção entranharam-se de forma tão arraigada no grupamento familiar que se tornou impossível ao doutor, desempenhar sua profissão, sem que lhe evocassem aquela faceta suja do seu passado.
INCONGRUÊNCIAS LITERÁRIAS
1. Tratar o centro de pequena cidade de “coração da urbe” é hipérbole descabida.
2. Malignidade é palavra inexistente.
3. ...”entranharam-se de forma tão arraigada...” equivale a dizer: descer para baixo, subir para, entrar para dentro.
4. “sua, lhe, seu” na mesma frase, que trata de várias pessoas. “Seu” de quem? Confusão total.
5. Há erros de pontuação: por exemplo: vírgula separando o sujeito (doutor) do verbo (desempenhar).
Quando Jarbas candidatou-se a prefeito, Genésio - considerado na época um vagabundo, pela família - mostrou ao pretendente que se combatesse o estelionato nas leituras de consumo, dos medidores de água do município, atrairia uma multidão de vítimas sedentas de justiça.
INCONGRUÊNCIAS LITERÁRIAS
1. Jarbas surge do nada na história.
2. Surge nova trama: a eleição. Conto não pode ter mais de uma trama.
3. Parágrafo de UMA frase construída de maneira sofrível. Excesso de intercaladas. Erros de pontuação. Uso errôneo de travessão.
Genésio informava, ao caquético-testudo, sobre a existência de um grupo de funcionários, do serviço municipal de águas, para o qual os critérios de apuração do consumo d água, não eram os numerais dos medidores, mas sim o comportamento dos consumidores. Se suas opiniões políticas divergissem da dos governantes, pagavam mais, devido às anotações superestimadas, aplicadas como retaliação.
INCONGRUÊNCIAS LITERÁRIAS
1. O leitor precisa adivinhar que “caquético-testudo” (sic) é Jarbas. A personagem não foi apresentada.
2. Pontuação incorreta.
3. Frases longas e confusas, contemplando diferentes fatos.
Esse projeto de sangria era estendido, aos departamentos de energia elétrica e aos de serviços telefônicos.
Ora, a população espoliada, em não sabendo como se livrar de tanta sanha criminosa, criou logo uma simpatia consistente em colocar garrafas pet cheias d água acima dos relógios medidores do gasto de energia elétrica.
INCONGRUÊNCIAS LITERÁRIAS
1. A corrupção não pode ser tratada por “projeto”, se existia na cidade.
2. “...em não sabendo...” é linguagem cartorial. Nada tem a ver com literatura.
3. “...simpatia consistente em colocar garrafas...” (sic). O que significa isso?!
4. ...cheias d’água acima dos relógios medidores de gasto...” Acima, como? As garrafas ficaram pairando? “Acima dos relógios medidores de gasto” é triste! Já foi explicado que se trata de medidores de água, energia... Logo, convém deixar o leitor raciocinar, inclusive para se interessar pelo texto.
5. Como o “projeto (sic) de sangria era estendido” à energia elétrica e ao serviço telefônico fica o leitor diante de situação inusitada: medição de “serviços telefônicos” nas residências. De onde tirou isso?
Assim, quem visitasse os bairros pobres da cidade, e observando aquele tipo de conduta, em não sabendo das roubalheiras existentes, e tentativas de defesa, por certo atribuiriam tais esquisitices, à má fama do lugar.
INCONGRUÊNCIAS LITERÁRIAS
1. “...quem visitasse... , e observando...” É elementar que os verbos devem ser conjugados no mesmo tempo: visitasse/observasse.
2. Se há “roubalheiras”, só podem ser “existentes”.
3. “...atribuiria tais esquisitices...” Quais esquisitices? É preciso adivinhar que fala das garrafas pendentes do ar (?).
4. Também se “descobre” que o lugar tem “má fama”. Deduzo que se refira à corrupção. Onde foi abordada a má-fama?
5. Ao escritor é permitido exigir raciocínio e não deduções do leitor.
Com essas e outras bandeiras, o meu nobre leitor já sabe, foi o Jarbas eleito prefeito dos Tupinambiquences.
Genésio até que ia bem no seu consultório. Ocorre que numa ocasião, ao atender um rapaz de 17 anos, notou estar ele queixando-se em demasia, das dores sentidas no braço fraturado. Por ser do tipo machão, Genésio achou estar o paciente fazendo fita. E qual não foi a surpresa da mãe do enfermo, ao ver o doutor aplicar tapas no rosto do seu filho?
INCONGRUÊNCIAS LITERÁRIAS
1. O que quer dizer com “bandeiras”? Gíria? Projeto?
2. Qual o parâmetro para dizer que uma pessoa se queixa “em demasia” de dores por fratura?
3. É óbvio ululante que alguém se queixa de dores “sentidas”. Poderia ser diferente?
4. Só agora, por exclusivo interesse do escritor, é revelado que Genésio era do tipo machão.
Longe de considerar o espancamento uma nova forma de anestesia, a mulher indignada, saiu imediatamente do local, indo queixar-se ao delegado de polícia.
INCONGRUÊNCIAS LITERÁRIAS
1. “...espancamento... anestesia...” (sic)
2. “...mulher indignada...” Queria que ela ficasse feliz?
Formou-se um comitê de ética médica. Esse porém não impediu a população de estabelecer seu juízo a respeito do Genésio, tornado médico por força da corrupção, patrocinada pelos contraventores do jogo do bicho.
INCONGRUÊNCIAS LITERÁRIAS
1. ...comitê de ética médica...” Isso é absurdo. Nunca existiu comitê municipal de ética médica. É surrealista querer sobrepô-lo aos sindicatos médicos.
2. “...esse não impediu... juízo... Genésio...” O objetivo do comitê era tratar do caso do médico ou mudar a opinião do povo?
3. “...tornado médico por força da corrupção... jogo do bicho...” Fim. Mas e quem é o rapaz de 17 anos, que não fazia parte da história? Caiu do céu para levar o tapa? E quanto às garrafas pendentes do ar? Ficam lá? Qual a importância literária de classificar o médico de incompetente? Para justificar o tapa? Contudo, a história não evidencia despreparo. O médico só atendeu a uma pessoa – e nela bateu. Ou seja, não houve atendimento médico, mas espancamento. E esse argumento literário é infantil e improvável, para não dizer impossível.
4. Esse é seguramente o pior texto que já li na Usina de Letras.
5. Desconsidera a técnica literária. O enredo é discricionário. A argumentação é primária e insólita. O texto contém impressionante quantidade de erros esclarecidos na escola básica. As personagens são verdadeiros fantasmas: não têm rosto e nem corpo.
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