Se fosse escrever um diário de escritor – não tenho jeito pra isto – hoje eu diria:
“Nem acabei de ler “As Pessoas”, mais um formidável livro da inteligência e sensibilidade de Ascendino Leite, eis que o Correio me bate à porta trazendo outro pacote. Mesmo antes de abri-lo, adivinha-se que é mesmo dele, Ascendino Leite. Letra ainda firme, como sua escrita, firme como suas idéias, seus pensamentos, seus poemas.
E abro-o. É de poemas, especialmente de poemas: “Loas a Chile”. Abro-o aleatoriamente à pág. 133 e leio o poema que todos gostaríamos de ter feito e não o fizemos. Mas o sentimos e ressentimos. Vou transcrevê-lo do outro lado do papel para não ficar cortado; não gosto de poesia interrompida por espaço que não seja o próprio. Nem de linhas quebradas, idem.
x x x x x
‘Acabou-se. Não há mais nada
que eu não deseje em ti.
Só o que vaga no que ficou e
plenamente faz viver: – a morte,
preciosa que é, estando em mim.
Tu és, cada dia, como a cidade,
o tempo do teu nome;
e o que, no meu próprio,
sobrevive e nos segura.
Haja sol e lua, e mares
por detrás,
indo e vindo com as penas
e pesares do costume.
Assim te abro e assim
te vejo,
meu amor,
cada vez mais ciosa
de ser tu.’
Isto é que é inspiração, e aspiração. Grande homem, grande intelecto, grande poeta.”
Abraços
Francisco Miguel de Moura
e-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br