Na solidão, outra vez. Para não pensar nela, mergulho no trabalho e fico sem tempo para refletir, procuro seguir o velho aforisma: mente ocupada é mente sadia. Mas, não posso dizer que estou livre da saudade. O telefone toca, a voz de minha mulher, de longe, faz a saudade pontilhar. As fotografias dos filhos e dos netos, tudo conspira para traze-los bem para perto de mim.
E eu fico pensando que um homem vale por seus momentos, os pensamentos enraizados nos fatos e nas pessoas que ama, o resto é mero complemento, como os adornos servem para justificar as coisas maiores.
E eu pensa nesta tarde da minha carreira, como eu ainda consigo sustentar o entusiasmo para o estudo dos casos que me vêm para julgamento, como eles instigam o meu desejo de estudar, de adentrar os meandros deste mundo imenso que é o mundo do direito.
Muiat gente, ao chegar até aqui onde cheguei, começa a ter esmorecimento, perde-se na preguiça, no dolce far niente, na triste postura de quem já está fora do mundo ativo.
A distância de casa já anda deixando o meu neto com perguntas estranhas: Vovó, onde está o seu amigo? Depois de algum tempo, conectando as pessoas, Vovó, cadê o vovô?
Abro a bíblia ao acaso, salmo 57 , hipocrisia dos juízes da terra. "Sim, há recompensa para o justo; sim, há um Deus para julgar a terra."
E eu espero tranqüilo a noite descer sobre a terra, pois na antemanhã, de alma leve, quero acordar o aurora.