O tempo vai passando, e fico aqui... a olhar-me neste velho espelho, e noto que como ele aos poucos estou ficando.
Vou envelhecendo, perdendo o brilho dos olhos, a espontaneidade de um belo sorriso, a vontade de sair por aí a caminhar pelas calçadas da cidade... estou envelhecendo... e junto de mim tudo envelhece, se perde... se vai...
As pessoas já não são como antigamente. Agem e pensam coisas “sem pé nem cabeça” (não é assim que se fala?). Trabalham constantemente e não pensam em ser felizes, realizarem-se pessoalmente ou... ao lado de uma pessoa.
Os jovens, Deus queira desculpar-me, mas estão cada vez mais... loucos! Tudo bem, é um pouco de exagero de minha parte, mas no nosso tempo... não era assim. Não podíamos sair agarradinhos pelas ruas da cidade, passear em shoppings todos os dias como se fosse comida... precisamos todos os dias!... Sem dizer nesses “apelidos”... não sei bem o que são, mas não me soam bem aos ouvidos... patis, boys, nojentas, bregas, gostoso, CDFs... nossa, isso é só 1% do que ouço... e para ser sincera, não faço questão de lembrar-me do restante.
Tudo está tão diferente... as lojas, estão insuportáveis! Não há um bendito lugar que eu seja bem atendida!... Foi por esse e muitos outros motivos que decidi não sair de casa a não ser, se fosse de extrema importância o que eu precisasse fazer...
E foi assim que passei meus últimos dez anos... trancafiada dentro desta casa.
Você não deve saber qual bendita casa estou, pois quando partistes, por causa de conflitos familiares, ainda estávamos na outra casa... que, infelizmente, foi demolida menos de um mês depois de sua partida.
Agora, estou aqui, e continuo a olhar-me neste velho espelho... velho como eu, e sem dúvida como você também. Já que estamos tão distantes, tudo o que me restou foi escrever-lhe uma carta... quem sabe assim você venha visitar-me? Não é uma má idéia.
Espero que você esteja bem... e BEM casado, ainda!... Meus pêsames por seu filho, meu querido irmão... Deus esteja com ele. Que você seja feliz... assim como eu, que sou abençoada a cada dia por poder sentar a varanda desta velha casa e lembrar-me sempre, de que você existe em minha vida... e que sem você, eu nunca seria a mesma! OBRIGADO por você existir, meu irmão!