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Cartas-->desculpas por não ter ido à sua festa -- 26/02/2005 - 16:58 (FAFÃO DE AZEVEDO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Rio de Janeiro, 4 de dezembro de 2004.

Exma. Sra. Eneida II – rainha da boemia carioca,

Consta que o presidente Getúlio Vargas, nos idos de 1953, nomeou Assis Chateaubriand membro da delegação que iria representar o Brasil na cerimônia de coroação da futura rainha da Inglaterra, Elizabeth II.

Conhecer de perto o soberano da Corte de Saint James era um velho sonho de infância do jornalista paraibano.

Seu médico chegara a aconselhá-lo a desistir da aventura londrina, pois se sabia que a cerimônia duraria 5 horas sem interrupções e por causa de uma infecção na próstata ele era obrigado a urinar a cada meia hora.

Mas Chatô já tinha a solução. Vestiu um sobretudo por cima da casaca e abriu dois talhos nos forros dos bolsos. Pediu ao bar do hotel duas garrafas vazias de Coca-Cola e guardou-as no capote. Às oito da manhã dirigiu-se à Abadia de Westminster, juntamente com todos os chefes e subchefes das outras delegações.

Sob os olhares de presidentes, primeiros-ministros, príncipes, reis e rainhas que se puseram de pé, Elisabeth atravessou em passos lentos.

A cinco metros de distância daquela que minutos depois seria a soberana de oito nações, sessenta e cinco protetorados e seiscentos milhões de brancos, negros e amarelos que compunham um quinto dos habitantes do planeta, Chateaubriand enfiou as mãos nos bolsos do sobretudo, desabotoou a braguilha, tirou o pênis pra fora e urinou aliviado, tomando o cuidado de não errar a pontaria ao mirar no minúsculo gargalo da garrafa. Quando Elisabeth II se colocou de costas para o espaldar do trono e postou-se de frente para o homem que iria coroá-la, Geofrei Francis Fisher, primaz da Inglaterra e arcebispo de Canterbury, Chateaubriand já havia enchido quase meia garrafa. Só às onze e meia da manhã (nessa hora toda a primeira garrafa tinha sido completamente abastecida) é que o arcebispo iniciou o ritual: segurou no ar sobre a cabeça da futura rainha a coroa de Santo Eduardo e virou-se sucessivamente para o norte, o sul, o leste e o oeste, como se estivesse se dirigindo aos povos da comunidade britânica espalhados por todos os quadrantes do planeta e indagou:

- Senhores: eu vos apresento a rainha Elisabeth II, a vossa rainha incontestável. Por isso pergunto a vós todos que aqui viestes: estais dispostos a render-lhe homenagem e prestar-lhe vossos serviços?

Chateaubriand aproveitou o som dos clarins e das gaitas de fole para repetir pela décima vez a operação, inaugurando a segunda garrafa com um curto e reconfortante jato de urina. Os representantes de todas as colônias e protetorados ali presentes responderam em coro à pergunta:

- Deus salve a rainha Elisabeth.

A liturgia durou as exatas cinco horas previstas pelo protocolo. Quando a cerimônia chegou ao fim, Chateaubriand esgueirou-se por entre a multidão de chefes de estado que caminhava em direção contrária, rumo à porta de saída, foi até um dos banheiros e depositou no chão as duas salvadoras garrafas.

* * *

Assim nos conta Fernando Morais em sua biografia sobre o “Rei do Brasil”. Transcrevo aqui para ilustrar a justificativa que ora apresento para minha ausência nos festejos de sua coroação (com trocadilho, por favor), querida prima.

Por ter conhecimento dos obstáculos mictoriais dos butiquins da Lapa (para quem utiliza cadeira de rodas, como eu), até pensei em me inspirar no exemplo para poder comparecer ao local que fez às vezes da Abadia de Westminster na sexta-feira próxima passada mas me deparei com três problemas, a saber:
1. o clima e a temperatura ambiente não favoreciam o uso de sobretudo;
2. minha pontaria não é lá essas coisas;
3. por ter a próstata ainda em perfeito estado, meu xixi não é gaguejante como o do personagem acima citado embora a ingestão do chopinho costumeiro em festejos dessa ordem, com certeza, provocaria freqüência às garrafas em intervalos de tempo não muito diferentes dos dele e me exigiria um número bem maior de receptáculos.


Espero que compreenda meus motivos e perdoe minha falta. Manifesto total disposição em comparecer a qualquer outra comemoração promovida por você, desde que em local acessível. Afinal uma data tão importante como a de seu aniversário merece ser festejada até o início de 2005.

Aceite minhas congratulações e transmita meu abraço ao Luciano, o príncipe consorte (ainda com trocadilho).


Mil beijos do primo
Fafão de Azevedo.
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