Ontem, na Amadora, uma cidade que cresce ao lado de Lisboa, num daqueles esconsos botecos em bairro de emigrantes onde o miserabilismo e a miséria se acantonam, após uma daquelas zaragatas de lana caprina que despontam entre banhos de alcóol e droga, a polícia foi solicitada telefonicamente para acorrer ao local. Um carro patrulha com dois agentes dirigiu-se para a cena e quando os polícias identificavam um indíviduo suspeito, este, sem mais, sacou de uma pistola de alto calibre e abateu-os mortalmente.
Segundo comentários recolhidos por jornalistas junto de residentes contíguos, o assassino, pelo sotaque com que se expressava e atitudes entretanto manifestadas, será um perigoso bandido de nacionalidade brasileira, ainda não oficialmente reconhecido e capturado, que terá participado em diversos e violentos assaltos ocorridos recentemente.
Ora, Miguel, nos últimos tempos em Portugal têm acontecido casos como este, o que não era crível que pudessem com tal forma suceder. Há um mês atrás, também um polícia foi abatido da mesma forma, e o seu companheiro de patrulha só escapou ileso, porque teve a felicidade de espontaneamente aninhar-se sob o volante.
Olá camaradas... Estejam tranquílos...
Nós, mais dia menos dia, resolvemos o assunto...
Estamos pois defronte a gravíssimas consequências que emanam directamente da crise económica que aflitivamente vai grassando pelas mais diversas partes do mundo, e isto é fruto exclusivo da política globalizante que os arautos do paraíso terreal propalam e incentivam desmedidamente. Estão-se mesmo a ver os nefastos efeitos daqui decorrentes: enquanto elitisadas minorias vivem à grande e à francesa em permanente fausto, biliões de seres humanos sobrevivem no limite do possível. Assim, ora em farisaica doutrina colectiva, ora em irrompimento individual, surgem os indivíduos que desprezam a vida e se tornam capazes das maiores atrocidades.
Entretanto, Bush, Putin, Blair, Chirac, Lula, quejandos seguidores ou opositores do mesmo nível, deveras nada fazem para inverter a situação: as fábricas de material de guerra não cessam de produzir, e cada vez mais, sofisticadas armas para que o morticínio, tomado por espécie de propositado equilíbrio natural, prossiga imparavelmente.
E assim vamos, Miguel, infelizmente. A iminência da tragédia paira e o mundo continua a rodar. Não acredito que as palavras, tal como as coisas actualmente estão e prosseguem, sirvam para mais do que simples paliativo de circunstância analgisante: eles dizem - entende? - mas muitíssimo pouco fazem do que dizem. Uns não podem e outros não querem mesmo fazer. Os serviços secretos servem apenas para garantir - às vezes falham - a segurança de alguns, os tais que no fundo se estão mesmo nas tintas para a morte do pobrezinho.
Um abraço.
António Torre da Guia
O Lusineiro
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