Já alguma vez ouviu falar ou viu escrito algures o vocábulo "quadreto"?... Não, não ouviu nem viu.
Também ainda nenhum poema conhecerá - a não ser os que eu já concebi - cujo conteúdo seja constituído por quatro quadras em redondilha-maior, sob rima sequente, sendo a primeira e a terceira rimadas intercaladamente, e a segunda e a quarta rimando o primeiro com o quarto verso, e o segundo com o terceiro.
O "quadreto" pois, com a emanação lógica do termo soneto, aparece assim:
E O RESTO É...
Nasço, gozo, sofro, morro
Ressuscito o mesmo arcano
E assim ano após ano
Sempre à volta me percorro...
Acudo... Peço socorro
E como o sol... A razão
Ressurge por trás do morro
Em constante sim e não...
Levado na sensação
De que estou a mudar
Acabo por me encontrar
Na mesma situação...
O que sei não chega então
Por mais que saiba onde estou
Pra descobrir a noção
Exacta sobre quem sou !...
Em plena época de versilibrismo, surto contra o qual nada tenho ou pretendo opôr, sinto-me bem de retorno às sublimes algemas da métrica e do rigor estrófico, tomando a mais popular e simples das estrofes - a quadra - e o mais corrente dos versos - a redondilha-maior, para apresentar uma nova forma de expor, que considero assaz sonante e capaz de concitar o interesse de novos e futuros trovadores: o quadreto !...
Como o célebre "ovo-de-Colombo", logrará o "quadreto-de-Torre-da-Guia" aproximada fama e bom uso clássico? Eu, enquanto estiver vivo e cônscio, não cessarei de sonhar. Também, sonhar assim, não faz nem fará mal algum.
António Torre da Guia
O Lusineiro
Registo SPA nº. 1-4.153 |