Sabe quando você chega em casa cansado, moído de tanto trabalho, mas bem leve de consciência por ter amenizado, nem que seja um pouquinho, o longo suplício de uns poucos jurisdicionados, aqueles que entregam os últimos sopros de esperança nas mãos distantes de um magistrado? Pois é, estou me sentindo assim, porque consegui, em doze horas bem contadas de trabalho, recuperar as expectativas de dezoito pessoas dos mais afastados rincões do nosso imenso país, que me escreveram cartas aflitas, dando conta das suas desventuras, das suas doenças, da sua avançada idade, do bem que nas suas vidas pode fazer uma decisão saída do meu labor.
Estou muito cansado, é verdade, mas estou feliz. Posso, de cabeça erguida, enfrentar as críticas plantadas nos jornais contra a magistratura, contra a lentidão da justiça, porque ninguém se preocupa em saber se o juiz mergulha no trabalho do nascer ao por do sol, de segunda a segunda, nos domingos, feriados, dias santificados. Não, definitivamente não. Não há medalhas nem louvor para tal labuta. Nem espero por tal, pois o meu desafio reside na minha própria consciência, no senso de responsabilidade, na insopitável vontade de julgar.
O resultado do trabalho aparece de vez em quando, numa conversa supreendida ao acaso, como o comentário que ouvi de um advogado goiano que, sem saber que eu me encontrava no gabinete, do outro lado da divisória, ao receber a notícia de que os três processos cuja tramitação procurara saber tinham sido solucionados, exclamou: Puxa! Que coisa fantástica! A gente só ouve comentários negativos sobre os juízes e ninguém se preocupa em divulgar o trabalho excelente que aqui está sendo desempenhado. Olha, três processos que eu vim atrás e todos três resolvidos. Isto é maravilhoso!
Sim, ele saíu dali satisfeito, risonho. Muito mais que ele fiquei eu, recolhendo no meu silêncio o fruto saboroso do dever cumprido!