Um dia perguntei por ele, mas não ouvi notícias...
Ficou uma voz surda em meu ouvido e um vazio pesado em minha alma, e procurei, e procurei, e procurei...
Outro dia também procurei, e o encontrei...
Então perguntei seu nome mas ele não disse nada, e em seguida vi suas costas, e houve outro vazio e outro peso em minha alma, mas como a espera não se cansa, esperei, esperei, esperei...
Aí, outro dia ele surgiu à distância, e levantei da minha espera e ajeitei as abas do manto da minha alma e olhei o caco de espelho das minhas vaidades, e ele chegou... Havia um pranto escondido em sua alma, e uma lágrima seca na sua face, e quando dei a ele o meu ombro falou das desventuras de um amor perdido, e ouvi, e ouvi, e ouvi...
E num outro dia chegou acostumado ao meu ombro, e ao meu colo, e ao meu ouvido, e disse que gostava de mim, e meu coração pulsou de alegria, e minha alma renovou a esperança, e como a esperança renovada sonha, eu sonhei, e sonhei, e sonhei...
Então, outro dia ele chegou e não disse nada nem deitou no meu ombro... Mas arfou seu hálito acima do meu rosto, e comeu da minha carne e bebeu da minha alma, e deitado ao meu lado ouviu a minha voz, e enquanto descansava arrisquei umas palavras, e falei, e falei, e falei...
Então nos demos as mãos e dissemos que não éramos mais dois, mas um só porque eu era ele e ele era eu, e desse dia em diante passamos a respirar o mesmo ar, e dividir as mesmas alegrias e chorar as mesmas lágrimas, e então eu fui feliz, e feliz, e feliz...
Mas um outro dia ele chegou meio diferente, e vi um brilho de faca em seus olhos, e vi que falou olhando um pouco abaixo dos meus, e disse que ela voltou dizendo que o amava... Então com meus olhos nas mãos vi as suas costas como um dia vi o seu rosto, e ressoaram as suas palavras como facas de corte em meu peito, e eu chorei, e chorei, e chorei...
Agora, depois de muito tempo olhando a estrada aonde vi suas costas, vejo outra vez seu rosto cheio de poeira e agonia, e meu coração pulsa um novo pulsar meio dolorido, e sem mesmo entender porque o faço, ajeito as abas da minha alma, e olho como estou no estilhaçado espelho do meu coração, e corro para ele. E corro, e corro, e corro...
Não há a menor dúvida de que é ele mesmo, mas eu também sou a mesma...
E enquanto corro renasce a esperança quem sabe, de que dessa vez eu ouça a sua boca dizer eu te amo, te amo, te amo...