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Cartas-->A fábula do poeta e o cachorrinho Dinba -- 28/05/2005 - 02:13 (CARLOS CUNHA / o poeta sem limites) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos






Fábula do poeta e o cachorrinho Dinba





Houve um tempo que existiam princesas, dragões, bruxas boas e más, fadas, duendes, príncipes em cavalos coloridos, com todas as cores, e todo um povo estranho e belo, do qual a gente ouve falar nas estórias contadas e chamadas de contos de fadas. Eles viviam como nós, sofrendo, sorrindo, fazendo intrigas e também amor. Era uma época estranha aquela, para nós que vivemos neste mundo que é verdadeiramente louco, mas essa estranheza apresentada não passa de sonhos e eles não fazem mal a ninguém! Na verdade o sonho é a alma de uma vida intensa.
Nos dias de hoje ainda existem pessoas que vivem suas vidas em eterna fantasia, sonhando com amores platônicos, idealizando um mundo em que as pessoas existentes nele são puras, inocentes e sem maldade. Esses são os poetas.
Tem um que foi morar numa terra muito distante, onde até a língua falada por lá era estranha para ele, e isso fez com que passasse a viver numa grande solidão. Com o tempo a força de sua imaginação o libertou desse estado, e fez com que ele aprendesse a ouvir a conversa entre as flores e a entender o que falavam os animais.
Na primeira vez que ele ouviu a conversa entre uma Rosa e uma Maria Sem Vergonha não achou isso uma coisa estranha, pois não havia ninguém ali para lhe dizer que conversa de flor não era uma coisa lá muito normal. Adorava ouvir as novidades contadas pela Rosa, sempre muito vaidosa, que gostava de implicar com a Maria Sem Vergonha que, muito brava, falava cada palavrão que nem existe na língua dos homens.
E o poeta se acostumou em pensar e sentir como flor até que um dia, sentado no jardim de sua casa, ouviu a seguinte conversa entre as duas:

- Maria Sem Vergonha, você já reparou que tristeza é a vida daquele cachorrinho, o Dinba, que vive preso a corrente na casa ao lado?

- Sim Rosa, e tenho muita pena do pobre animal.

- É, deve ser muito triste ter de viver amarrado daquela maneira.

- Deve mesmo, mas ele está ali por livre escolha. Aquela corrente negra que o prende não é feita de ferro, mas de sentimentos.

- De sentimentos?!

- É sim Maria Sem Vergonha, cada alo dela é formado de inveja, rancor e muitos outros sentimentos bastante maldosos, que o prendem ali. Pode ver que ninguém pode chegar perto dele, que ele começa a rosnar e tenta morder. Não deixa que se aproximem dele – nem mesmo o poeta o consegue - e por isso não tem amigos. Aquela corrente vai desaparecer, e ele conhecerá a liberdade, só quando em seu coração tiver sentimentos nobres.



O poeta, nessa hora, olhou para o cachorrinho e viu que os latidos que ele dava, enquanto fazia força para se livrar da corrente que o prendia, eram ganidos desesperados e com o dom que tinha de entender a fala dos animais, compreendeu as súplicas que o pobre animalzinho fazia para que lhe fosse dada à liberdade. Ele - o poeta - chorou nessa hora, pois nada podia fazer para libertar o animal, pois como as flores aviam comentado isso era uma coisa que só o pobre cãozinho podia fazer por si mesmo.
O poeta enxugou as lágrimas dos olhos e voltou a prestar atenção na conversa da Rosa com a Maria Sem Vergonha. Elas tinham voltado a falar de coisas alegres, e o cachorrinho, chamado Dinba, continuou preso pela corrente de sentimentos maldosos, que era a prisão que tantos limites impunham a sua vida.



Moral da estória: Enquanto uns vivem presos a limites absurdos, como pobres cachorrinhos acorrentados a um pequeno espaço de infelicidade, os poetas fantasiam e criam um mundo que é para eles uma eternidade de sonhos e alegrias sem limites.






CARLOS CUNHA : texto e produção visual






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