Movimento: Indireta Já
Luís Gonçalves
O povo brasileiro sobrevive do seu jeito e trejeito criativo. É capaz de reorganizar o próprio tempo e espaço. Domina a capacidade de reinventar o próprio sonho de consumo.
O resto do mundo acredita pouco no que o brasileiro faz. Mas ninguém se habilita a fazer melhor. Aliás, toda critica é saudável ao redor do mundo a do brasileiro é construtiva. Contém padrões e conceitos totalmente diferenciados.
Bem antes da galera falar em fazer clonagem no mundo científico, o brasileiro já compunha sua moda aqui nessa terra ensolarada. Podemos dizer que temos a própria sombra. Desculpe, aqui se considera vulto.
E todo mundo convive muito bem obrigado com seu próprio vulto. Sem desejar o vulto de ninguém. Ao redor do mundo os vultos vão parar no armário de troféus e são embalsamados para sempre. Alguns são sufocados com as honrarias.
Somos o vulto que permanece. Sem detalhes, por favor. Um vulto azarão que nasceu vencedor. Quase chego a pensar que o único defeito do brasileiro é a exagerada criatividade. Essa arte de recriar o óbvio acaba com a paciência da realidade.
Esse é o País de centenas de pessoas que acreditam que podem e devem fazer a coisa correta. Há uma tendência enorme nesse sentido. As pessoas realmente desejam a mudança.
Não é apenas a indignação isolada de um grupo ou segmento. A sociedade está indigesta. Afinal, são anos de prato quebrado nos sopões de solidariedade da vida política.
Desde que deixou de usar a colher de pau da ditadura e entrou na tão melindrada democracia a coisa caiu em crise. Pois, sim: no terreiro que não tem galo quem canta é o frango e a franguinha. E o almoço fica custoso que só vendo.
Pela primeira vez chego a pensar que a criatividade nos leva a opressão. Ainda não consegui formular totalmente a minha defesa nesse sentido. Porém, os fatos poluem a rotina.
Vivemos aos solavancos de denúncias. Enquanto isso em algum lugar do criativo modo de ser do brasileiro a lavagem de dinheiro continua. Um mal necessário para alguém.
Falamos tanto em moralidade. Mesmo assim o profissional criativo da área consegue burlar o sistema e compor suas falcatruas. Pior, é que faz sucesso. Vai pra cabeça.
O nosso esquisito modo de vida ainda permite certas honrarias desnecessárias. Por exemplo: por mais que o cidadão seja suspeito, mais espaço ele detém na mídia.
O que parece ser uma contradição inicial é uma lógica técnica de mercado: vende mais quem consegue colocar a sua marca em evidência. A putrefação exala em contato com a atmosfera. Nada impede as justificativas à priori.
Esse é um País que vai para frente. Onde todos que estão no poder ganham. Outra técnica avançada da comunicação. Sem escândalos não há remanejamento na constelação dos astros.
O processo não pára. A neurolingüística exige uma dinâmica logística mais precisa. Isso é um fato. Independente da situação o universo pós e contra deve continuar.
A nossa amada e idolatrada política é sempre a grande vítima. Tratando-se de política partidária: nada presta até que se prove ao contrário. Às vezes isso fica complicado.
A questão é como dosar essa criatividade? Como impedir que algo tão útil caia em mãos erradas?
De repente seria legal se todos começassem a abolir a palavra “credibilidade”. O que mais assusta as pessoas de bem é exatamente a credibilidade do escândalo.
Ninguém consegue avançar numa discussão decente depois de um escândalo atrás do outro. Somente a entidade que patrocinou o escândalo. Depois de remendados os feridos o pessoal costumam discutir a credibilidade do evento.
Sinceramente: não sei se há algum lucro palpável nisso. Mas deve haver. Com certeza. A comunicação é um produto altamente rentável. E o mercado está em franca expansão.
Ainda continuo a pensar que os nossos heróis são mascarados. Que fazem parte da seita, daqueles que retiram do pobre para dar aos ricos. Que o nosso consumo é muito maior que o fornecedor. Coisa daquele que tudo pode.
Isso, decididamente nos faz desigual junto ao nosso grande representante. Por isso não vejo importância alguma em insistir digerir um produto altamente contaminado.
Fazemos essa consumação para a nossa própria condenação. Talvez essa série de escândalos não passa de mais uma anedota. Sinceramente, não há mais tempo para tanta piada.
Somos o que podemos ser: objeto de pesquisa dos laboratórios “colloridos” da vida; súditos do reino dos temíveis “anões”; e daí? Somos papas-pizzas assumidos.
Devemos dar graças a Deus, por fazer parte dos currais eleitorais. Pelo menos uma vez ou outra nossos líderes dispensam uma ou outra “alface” para o nosso pasto.
E assim vamos vivendo: curtindo os escândalos da vida. Isso é para quem pode não para quem quer.
Qual será o capítulo de amanhã?