"As drogas pervertem o sistema de recompensa cerebral ligado evolutivamente à preservação da espécie. Não existem drogas leves. Todas elas podem causar dependência química" (Dráuzio Varela).
Dependência química
"As drogas acionam o sistema de recompensa do cérebro, uma área encarregada de receber estímulos de prazer e transmitir essa sensação para o corpo todo. Isso vale para todos os tipos de prazer - temperatura agradável, emoção gratificante, alimentação, sexo - e desempenha função importante para a preservação da espécie.
Evolutivamente o homem criou essa área de recompensa e é nela que as drogas interferem. Por uma espécie de curto circuito, elas provocam uma ilusão química de prazer que induz a pessoa a repetir seu uso compulsivamente. Com a repetição do consumo, perdem o significado todas as fontes naturais de prazer e só interessa o prazer imediato propiciado pela droga, mesmo que isso comprometa e ameace sua vida" (Ronaldo Laranjeira).
Ronaldo Laranjeira é médico psiquiatra, coordena a Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas na Faculdade de Medicina da UNIFESP (Universidade Federal do Estado de São Paulo) e é PhD em Dependência Química na Inglaterra.
"Nicotina é um alcalóide (substância orgânica nitrogenada existente nas plantas e em alguns fungos), encontrado nas folhas do tabaco (Nicotiana tabacum), planta originária das Américas. Absorvida por via oral ou pulmonar, chega ao cérebro em segundos e depois, dissolvida no sangue, vai sendo excretada rapidamente. Quando os neurônios percebem que ela está escapando dos receptores, provocam um grau de ansiedade que só quem foi fumante sabe o que representa. É a crise de abstinência.
Entre as mais de 4.700 substâncias nocivas presentes no cigarro, a nicotina é a responsável pela dependência, que é maior do que a de drogas como a cocaína e a heroína. As primeiras tragadas que o indivíduo dá na vida, em geral, são acompanhadas de tontura, enjôo, mal-estar. Depois, trazem sensação de prazer fugidio e, em curto espaço de tempo, alterações de humor causadas pela privação da droga. Assim, cigarro após cigarro, o organismo do fumante e do não-fumante que convive no mesmo ambiente vai sendo minado e a saúde dos dois seriamente comprometida".
(Por José Rosenberg)
José Rosemberg é professor de Pneumologia. Um dos fundadores da Faculdade de Medicina de Sorocaba da Pontifícia Universidade Católica (SP), destaca-se no combate à tuberculose e ao tabagismo. Entre outras obras, em co-autoria com Marco Antônio Miranda e Ana Margarida Arruda Rosemberg, publicou “Nicotina – Droga Universal”.
Não faz sentido falar generalizadamente em "efeito das drogas", visto que cada uma age segundo mecanismos farmacológicos específicos. Mas, se existe um efeito comum a todas elas, é a estimulação dos circuitos cerebrais de recompensa mediada pela liberação de dopamina, através da interação da droga com receptores localizados na superfície dos neurônios.
Está fartamente documentado que o bombardeio incessante desses neurônios reduz progressivamente o número de receptores que respondem à dopamina. À medida que o cérebro fica menos sensível à dopamina, o usuário começa a perder a sensibilidade às alegrias cotidianas: namorar, assistir a um filme, ler um livro. O único estímulo ainda suficientemente intenso para ativar-lhe os circuitos da motivação e do prazer é o impacto da droga nos neurônios.
Conforme disse o médico acima, "só quem foi fumante" é capaz de medir o grau de ansiedade causado pelo cigarro; porque, só ele tem a experiência do quanto perdeu da capacidade de sentir prazer e do quanto recuperou depois de deixar o vício. Quem fuma atualmente talvez tenha muita dificuldade para entender isso.
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