Baião de Dois
Luís Gonçalves
A reengenharia humana de sucesso é ser chique no último. Como a vida é um círculo, o último fica coladinho com o primeiro. Por isso quem ri por último, ri melhor.
O segundo ri atrasado e do quinto em diante o resto é fresco. Porque do segundo ao antepenúltimo todos fazem parte da mesma panela. Ou seja: qualquer palhaçada vira gargalhada geral.
Essa química do riso não tem explicação. Porque ninguém é a Ave-maria para ser tão cheia de graça. Passa a ser uma questão de vivência. Cada cidadão tem a sua forma de expressão.
Carrega a transparência no discurso como escudo de “cobra-cega”. É o bastante. Não enche barriga, mas satisfaz.
Não queremos falar dos louros da vitória. Nem do macaco que nunca comeu mel e quando come se lambuza. Seria chacota de gente baixa e nós não costumamos fazer isso.
O bom brasileiro é aquele que realmente carrega consigo a carteirinha da ingratidão, o passaporte da pobreza e o endereço completo do abandono. Salvo raras exceções.
Quem possui essas credenciais está totalmente fora do processo. Isso também não se discute. O prazer do riso vai muito além dessas e outras aquiescências.
Depois que mataram a cobra e mostraram o pau tudo ficou diferente aquilo roxo.
A tendência apresenta o riso, mas não explica o fato. Que acabou sendo o maior material bélico da chacota. Porém, a categoria reúne os companheiros e executa o drama.
Que acaba deixando melindrada a agonia do povo carente. A galera vai ao delírio. Transforma o balaio de gato em comédia de vidas públicas sem reticências. Mas não convence a crítica.
Sinceramente, fica difícil retirar esse costume do imaginário das pessoas. Que não deixa de ser o desafortunado da vez. O condenado cumpre a pena sorrindo da desgraça alheia.
Os ideais tornaram-se comédia indo parar no cinema. Naquela época não existia a Mídia. Ela ainda estava em gestação.
A televisão era a coroinha e só dava assistência nas missas com circuito fechado. Bem estruturada no picadeiro circense e patrocinada pelo palhaço de plantão. Um apresentador qualquer.
O grande falador era o Rádio. Mas não falava mal de ninguém só fazia breve comentário. Foi sempre assim até ser pego com a mão na massa. Tornou-se farinha do mesmo saco e tudo bem, obrigado. Ficou como mero formador de opinião e dono da verdade.
Anos dourados se foram até que a Comunicação veio pra ponta botar ordem na casa. Tarde demais. A iniciativa não era mais privada. E a maledicência humana tornou-se pública.
Trocando em miúdos hoje temos o País do carnaval que virou uma piada. Que bem vendido no exterior pode até ser uma salada de frutas tropicais. Calma, a coisa ainda está em juízo.
Depois do enredo faremos o debique. Nada de rojões porque isso dá azar. Definitivamente, não podemos correr riscos desnecessários. Por enquanto vamos fingir que tudo não foi além de um rio que passou em nossas vidas.
Ainda bem que temos a Mídia. Uma grande aventureira que baixou a terra com a santa veemência de rediscutir o progresso. O mundo não seria mais o mesmo...
Depois do tradicional feijão com arroz foi servido o café com leite. Tudo isso dentro de uma sofisticada caserna. Agora é à hora e a vez da Publicidade e PT saudações.
Aliás, depois do namoro do tempo com a discórdia o jabá passou a ser comido mais fresco. Toda aquela coisa engraçada, que fazia a gente rolar de rir tornou-se uma piada.
Bem mais democrático e politicamente perfeito. Riso pra lá, riso pra cá, a coisa devagar vai viciando. Dali a pouco qualquer debique é uma piada. Verdade seja dita.
A Mídia nasceu fadada a tornar-se o centro das atenções. Dona do segredo do destino. Patroa do rumo que a vida levou. É!, a Mídia desencaminhou o destino da vida privada.
Aportou na mesa do brasileiro como a dona do saber. Excluiu o sossego de o pacato cidadão saborear o sagrado arroz com feijão de cada dia. Na hora do bem bom assentou o horário nobre.
Dali em diante o brasileiro se viu obrigado a engolir o engasga gato de cada dia, com a porta da cozinha escancarada. Era o início da fabulosa era digital. Que acabou amasiando com o medo e vivendo felizes para sempre. A margem do prazer.
Essa manifestação de liberdade veio atarracada com a libertinagem. Mas as coisas sempre ficaram em família. Porque segredo de casa só barata que sabe.
A mais grave de todas as mudanças ocorreu exatamente no hábito alimentar. A Mídia inseriu no cardápio do brasileiro, algumas iguarias de alto valor calórico e de qualidade duvidosa.
Nessas alturas do campeonato a galera já estava totalmente envolvida com a novidade. Ninguém se prestou ao favor de avaliar a qualidade dessa e outras matulas importadas da dona encrenca.
Tem alguma coisa a falar em sua defesa? Fale agora ou cale-se para sempre. Não me venha com essa de inocência porque todos são até que se prove ao contrário. Ande!, Fale alguma coisa?
Aceita uma pizza?