Hoje estou naquela de escrever para você, Zé Ninguém, criatura anônima e inexpressiva que jamais viu seu nome impresso, nunca foi mencionado por qualquer escritor, colunista, articulista, repórter.
Sempre teve um vida abaixo da linha do medíocre, rasa, descolorida, insípida e inodora.
Hoje, entretanto, exalto a sua obscura existência, o seu mergulho profundo no anonimato, a sua integral coisificação, sim, porque você, na realidade, é uma coisa assemelhada ao humano, pois você tem registro civil (olha, tem muita gente que sequer tem registro civil), tem título de eleitor(embora nunca saiba em quem votar), passou pelo primeiro grau da escola e, por conseguinte, aprendeu a ler rudimentarmente.
Você, um belo dia, vai encontrar uma outra banda da laranja, igualzinha a você, sem conversa, sem sonhos, sem horizontes, sem perspectivas, vai casar e ter filhos num lar vulgar e banal...
Cuidado, porém, de vocês dois pode, ainda que seja difícil pela herança genética, nascer um gênio!.