Intento, sinceramente, com a mesma perspicácia avaliativa com que a Amiga esclarece o que pensa sobre a gerência da Usina, e neste período fá-lo com eminente coerência:
O gestor vai deixando que o joio ganhe terreno até que o trigo, por ser mais macio, tenha sua merecida flexão, entre as ervas daninhas, que vão, uma-a-uma, embrenhando-se pelo despenhadeiro do esquecimento, mesmo que mudando, sempre “de cara”.
... Intento, escrevia eu, colocar tão só umas pinceladas de justo verniz em cima da pétala da modestíssima e humilde rosa que deveras à usuária Milazul cabe.
A Senhora é uma guerreira a escrever, é uma séria e estóica militante usineira que, esteja do lado que estiver na lide das ideias, merece a consideração de todos aqueles que pelo menos tenham um mínimo de sensibilidade e sentimentos em ordem. A Senhora é, desde sempre, uma devotada, séria e inquestionável Amiga da Usina.
A partir daqui, como está escrito o que deveria ser escrito, o resto vai a brincar - para abrir a janela à boa disposição - mas também é a sério, evidentemente.
Mais esclarecido ainda e desde já perdoe-me a ousadia da fúnebre comparação: amigos, inimigos, indiferentes, toda a gente iria com lícita fé ao seu funeral, desiderato que só deverá ocorrer por volta do ano 2071.
Então, eu com 122 anos - só me finarei aos 123 - farei o elogio fúnebre através de um aparelho especial que, ligado ao meu cérebro, transmitirá a minha voz de 1960/70, quando eu era um famoso declamador de poesia na cidade do Porto: Todos temos de morrer
Mas há sem dúvida quem morra
Que mais deveria viver
E eu não morro, que porra!Claro, por essa altura, como a Julinha já estará velhota-fixe, procurarei, através da luminosidade da minha única diopetria, transmitir-lhe consolação a fim de tentar suster o caudal lacrimejante à minha musazinha.
Ah... Ah... Ah... Vai ser lindo, vai. Parece que estou a ver as bombas dos "usinais terroristas" caindo no cemitério e eu, por miraculoso ímpeto sobre humano, a fujir de gatinhas com a Julinha, o caixão e tudo... Sem esquecer a "morta", essencialmente, tal como Dom Pedro fez erguer ainda em trono Dona Inês.
Saravá para todas as Usineiras e para todos os Usineiros, inclusive para aqueles que, como eu, perdem a cabeça por uma unha de mel coado.
Ai... Na vida tudo passa... Só que, enquanto vou vivendo, francamente, às vezes não sei como enfrentar a voracidade que se me depara sem que lhe encontre explicação sequer.
António Torre da Guia |