Como o prezado companheiro de letras constata, chamo-me António e, embora não acredite numa só partícula das santidades do mundo, além da minha particularíssima fé, gosto, adoro, amo o Santo António.
Logo que bem entendi a "profundidade-altíssima" do seu discurso aos nossos amigos peixinhos - à época, considerado um milagre - também eu experimentei paradigmático feito. Meti umas migalinhas de pão no bolso e, ao cair da tarde, abeirei-me do leito do rio Douro, que corria calmo e deliciosamente murmurejante.
Lancei as migalhitas à água e, daí a pouco, lá estavam um ror de taínhas a borbulhar em torno delas. Iniciei então uma lengalenga em voz bem audível, debruçado para o rio, por forma a ser ouvido por quem ia passando.
Parou um, parararam dois, três, seis, uma dúzia e perdi-lhes a conta. Atrás de mim, ouvia-os nitidamente a fofocar entre risadinhas e algumas piadas de mau gosto. Surgiu então o dito bem sonante: - " - É mais um maluco, coitado".
O "maluco", vá lá, passava, mas o "coitado" fulminou-me os neurónios, do jeito de pedrada que perfura a alma.
- Apre, cogitei eu com meus botões, vou fazer uma partida a estes gajões. Mesmo vestido, vou atirar-me para a água. Depois, todo molhado, que se lixe, escorro-me, meto-me no carro e vou mudar de roupa a casa.
Não hesitei, pois. De cerca de três a quatro metros de altura, do paredão tombei para o meio das taínhas e simulei os gestos de um afogado em aflitivo debate.
Os gajões abeiraram-se todos da margem, espantados, boquiabertos. Disse um: "- Merda, chamem os bombeiros, o tipo está a afogar-se".
- Alto lá - gritei eu - não se preocupem. Eu quero afogar-me, mas vou salvar-me. Comecei então a nadar em direcção a uma plantaforma mais abaixo, por onde saí. Enquanto me sacudia e me espremia, fui de imadiato rodeado pela maralha e interplado: "- Ó homem, você está doido ou quê?"
- Não, não estou doido, mas por um segundo enlouqueci, logo que um de vós me designou por "coitado".
- Ei, senhor, fui eu. Era a brincar, nada de sério. São palavras que saem sem um tipo pensar. Desculpe lá, foi sem intenção de o magoar...
Bem, meus caros "L&L", molhado e tudo, fomos todos para uma tasquinha que havia perto - a "Colher de Pau" - e foi uma festa.
Um deles, preocupado, disse-me: "- Ó senhor, assim todo molhado, tenha cuidado, você pode apanhar uma pneumonia...".
- Não. Não apanho pneumonia alguma. O Santo António e esta saborosa pinga não deixam. * * *Assim, caríssimo Edmir Carvalho Bezerra, faça o favor de me enviar o seu livro "DIZERUDITO" pelo correio e para o seguinte endereço:
António Torre da Guia
Rua de Camões nº. 312 - 2º./3º.
4000 - 139 Porto - Portugal
A seguir à capa, coloque uma breve nota com o seu endereço e montante da despesa, preço do livro e respectivo porte. Na volta, receberá o seu dinheirinho. Ou, em alternativa, informe-me o seu endereço, que eu envio-lhe o dinheiro e depois Você remete-me o livro.
Ah... Imagina porque tomo esta atitude em público? Imagina?...
Tão só porque acredito no Santo António e no Menino, entendo-os muitíssimo bem e sei reconhecer o excelso par, sempre que os encontro nos largos caminhos da vida.
De resto, esperemos que apareça um magote de simpáticos gajões para contemplar e participar no milagre desta cena.
Um abraço à Santo António
António Torre da Guia |