ENLACE
Porque ELA mandou...
Poeta,
Você já viu
Meu livro na vitrine?
Vá lá e veja,
Coisa simples,
Minha coisita
De Poesia... Apre,
Que grande empurrão
No pensamento
E vou ver mesmo.
Aguarde aí, Edmir,
Eu volto já. Bem, o livro, vi,
Não li, mas hei-de ler...
Li considerações, apreços,
E sobretudo este poema
Caíu-me bem, tão bem,
Que até vou escrevê-lo
Letra a letra
Para melhor sentir
Nas pontas dos dedos
As asas do poeta... Este verso abandonado
É a imagem escorregadia...
O poema nunca me vem na polpa dos dedos,
Nunca se apronta, se arruma...
É casa sem reboco.
Muita coisa me nasce
E morre segundos depois.
É preciso não estar acordado,
É imprecindível ser lúcido.
Corro silêncios imensos
Atrás de uma palavra
E suas entranças,
Estou sempre desviando
Dos caminhos...
Ao poeta basta pequenas nuvens,
Minúsculos vazios, folhas mortas,
Uma história de amor,
Uma janela, um regato,
O aroma do café creme,
Uma flor, um telefonema,
Um chá de hortelã,
Um risco de morte
No "Y" da atiradeira,
Um nada, uma ausência,
Os ajuntamentos, os ajustes,
A permanente parição... Eis o vazio
Do maravilhoso corpo
Que eu abraço,
A mulher toda sempre mais além-aquém,
A minha neta, a minha filha, a minha mãe,
A ressurreição, meu irmão,
A ressurreição que é preciso explicar
Tim-tim por tim-tim,
Ão-ão- por ão-ão...
Enquanto bater o nosso coração.
Vem daí guerreiro,
Agora o nosso amigo-inimigo é o tempo,
Vamos puxá-lo com as unhas,
Esticá-lo com os braços,
Fazê-lo ajoelhar a nossos pés...
Vês?!...
O tempo todo obedece
Porque ELA mandou..
Edmir Carvalho Bezerra António Torre da Guia
Som= Boleros ao piano