A ciência e a igreja católica quase nunca caminham de mãos dadas. Atualmente, o Vaticano tenta se aproximar dos biólogos, estes sim, considerados pelos líderes religiosos as ovelhas negras do rebanho científico. Não por acaso, eles são os principais responsáveis pelas pesquisas com células-tronco embrionárias e adultas.
Bento XVI
Se depender do novo papa, nenhuma mudança considerável deve acontecer na postura da igreja católica sobre as pesquisas com células-tronco embrionárias.
Segundo a Pontifícia Academia Pro Vita, braço operacional do Vaticano para assuntos bioéticos, esses cientistas estão indo longe demais e atravessando uma perigosa fronteira: aquela que divide a vida e a morte de um organismo.
O uso de células-tronco de embriões - com maior versatilidade se comparadas com as extraídas de um tecido adulto - para encontrar curas de doenças como o mal de Parkinson e Alzheimer não encontra respaldo entre as autoridades eclesiásticas. "Os meios não justificam o fim e nem tudo tecnicamente possível pode ser eticamente admissível. Este é um não aos valores humanos", diz o monsenhor Jacques Suaudeau, membro do comitê científico da Academia Pro Vita.
"A própria biologia nos diz que a vida humana começa no momento da fecundação. O ser humano já nasce ali, com o seu código genético estabelecido", afirma o médico e téologo do Vaticano. Para a Igreja, uma grande deturpação de linguagem encobre a primeira conseqüência direta deste tipo de pesquisa, ou seja, a morte do embrião. "Estamos assistindo a um jogo de palavras, chamam de pré-embrião o estágio anterior ao da implantação do óvulo. Mas ao final, a prudência estabelece o termo embrião e este já é um ser humano único, que tem o seu projeto de desenvolvimento, a sua autonomia", explica monsenhor Suaudeau
Entenda o que cinco das maiores religiões do planeta pensam sobre o surgimento do homem e pesquisas com células-tronco embrionárias
Budismo
Monja Coen Sensei, missionária oficial da tradição Soto Shu - Zen Budismo
A ciência é o que vai facilitar a melhor qualidade de vida no planeta. Acho que ninguém sabe exatamente quando começa a vida humana. Para mim isso é um contínuo. Não é quando o óvulo e o esperma se unem, mas já existia nos avós, bisavós, tudo está interligado. Há mais idéias além da teoria de Darwin e da idéia de que Deus criou tudo, o criacionismo. Mas o budismo não tem um conceito de Deus, um criador. Nós dizemos que nós somos o processo da vida do Universo com uma lei de causalidade, o que nós chamamos de origem dependente. E nós não temos a noção de que o homem é o centro da criação, no budismo nós somos apenas uma forma de vida que depende das outras formas de vida. Assemelha-se mais ao darwinismo do que à criação divina.
Hinduísmo
Swami Krishnapriyananda, Sociedade da Vida Divina Brasil, linhagem Smarta do hinduísmo
A filosofia do Sanatana-Dharma, ou hinduísmo, é ampla e variada. Também há "hindus" fanáticos, que agem numa paranóia de proibições, esquecendo-se dos ensinamentos dos Vedas (escrituras). As Escrituras falam que o semideus Senhor Brahmaa, primeiro ser humano criado pelo Supremo, criou o mundo material e todas as criaturas que nele vivem. Não há nenhum conflito com o que Darwin ensina e os Vedas ensinam. Apenas as idéias defendidas por Darwin fixam-se na evolução objetiva, desconhecendo a evolução subjetiva da consciência do Supremo. O hinduísmo não proíbe a pesquisa genética. As pesquisas que envolvam embriões de corpos humanos e outras espécies deverão ter um fim de bem-comum, onde o bom-senso deverá estar presente
Islamismo
Sheik Ali Abdouni, presidente da Assembléia Mundial da Juventude Islâmica
O Islã se preocupa com o ser humano na sua totalidade, portanto a ciência é uma das questões importantes da vida. A religião islâmica permite que sejam feitas experiências científicas para trazer um benefício para a sociedade e uma qualidade de vida melhor, mas coloca regras e normas para que ninguém ultrapasse os limites. Quanto ao uso de células-tronco, é permitido contanto que não haja venda delas, nem uso inadequado e que a experiência tenha grande possibilidade de dar certo. Para o Islã a vida começa aos 120 dias de gestação, pois é quando a alma é soprada no feto. De acordo com a religião islâmica, tudo foi criado por Deus, mais ou menos da mesma forma como acreditam as religiões monoteístas. O Islã é contra a Teoria da Evolução
Judaísmo
Rabino Henry Sobel, presidente do rabinato da Congregação Israelita Paulista
A ciência e religião se completam: sem a ciência a religião é cega, sem a religião a ciência é aleijada. A meu ver, o uso de células-tronco embrionárias para pesquisa científica deve ser não só permitido como incentivado. Embora o embrião seja uma vida em potencial, e como tal não possa ser levianamente eliminado, não podemos privar a sociedade das inúmeras possibilidades terapêuticas que o embrião representa a pretexto de protegê-lo. Acredito que a religião dá a bênção nesse sentido. Também não há conflito entre a Teoria da Evolução e religião. A Bíblia claramente comprova a evolução científica. Deus criou em seis dias de acordo com a Bíblia, do ser vivo mais simples ao ser vivo mais complexo, o ser humano, gradativamente. É um processo evolucionário perfeito
Protestantismo
Ariovaldo Ramos, pastor batista e presidente da ONG Visão Mundial
Para o protestantismo, de modo geral, a vida começa na fecundação. Somos contra qualquer forma não natural de cessação da vida. Entretanto, há entre nós os que entendem que, diante do descarte de vários embriões, a utilização destes para as tais células-troncos com fim terapêutico pode ser, no final, a única dignificação possível para essa curta existência. Diante de uma prática equivocada, porém generalizada, nas clínicas de fertilização, dos males o menor. De modo geral o protestantismo é criacionista, porém só os fundamentalistas lutam pela substituição do ensino do evolucionismo pelo criacionismo nas escolas. Há também, entre os protestantes, os que crêem numa evolução controlada por Deus - uma versão do Design Inteligente” (Galileu, set/2005).
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