Nota Editoria MSM: em carta enviada ao MÍDIA SEM MÁSCARA, um ex-policial militar, cujo nome completo foi omitido por motivos de segurança, relata o drama vivido por quem já teve de enfrentar a criminalidade. A pergunta óbvia é: se um ex-policial demonstra receio pela sua segurança, o que deve esperar o cidadão comum diante terrível onda de violência impune que assola o Brasil?
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Olá Sr. Editor,
Exerci a profissão de policial militar durante 1 ano e 8 meses (Ago/1999 à Abr/2000).
Foram 20 meses dos quais 6 na academia de polícia de onde fui lotado diretamente para o Serviço Reservado da Polícia Militar - PM2. Ao chegar à PM2 passei por mais 1 mês de treinamento e só então fui destacado para o cumprimento de missões.
Foram então 13 meses de intensas atividades que resultaram em muitas prisões, especialmente no combate ao tráfico de entorpecentes. Neste curto espaço de tempo fui condutor de dezenas de flagrantes envolvendo traficantes e viciados. Mais de 50 Pontos de Distribuição de Entorpecentes (PDE), vulgo "Bocas de Fumo" foram criteriosamente investigadas e posteriormente desativadas por meio de operações policiais das quais participei.
Me desliguei da Polícia Militar para iniciar carreira num Banco, onde estou até hoje.
Semana passada (27/09/2005) fui novamente chamado a depor no Fórum para prestar esclarecimentos sobre uma operação policial realizada em março de 2000 e que resultou na prisão de um traficante que permanece detido até esta data. E então lá estava eu, depois de mais de 5 anos, sem o escudo da farda e do corporativismo policial, frente a frente com o traficante na sala de audiência, expondo inclusive minha fragilidade, pois durante a minha qualificação como depoente obviamente o criminoso teve acesso à informação de que não sou mais policial e também de minha atual profissão.
Não preciso dizer o quão desagradável foi esta experiência bem como outras que já vivenciei desde que me desliguei da polícia. Tenho treinamento, habilidade e todos os demais requisitos que determinam a atual legislação em vigor para portar uma arma na forma da lei e, embora não faça uso desta prerrogativa neste momento, NÃO QUERO PERDER ESTE DIREITO. Sou pai de família, me preocupo mais com meus filhos do que comigo, e quero continuar tendo o direito de defendê-los se julgar necessário, sem depender totalmente da ineficiência do poder público que, como é notório, não supre a necessidade de segurança da sociedade, tampouco a minha.
Tenho também uma opinião de quem integrou uma corporação policial e conhece a realidade de que existe um imenso trabalho a ser desempenhando pelo poder público no cumprimento do que determina a atual legislação vigente sobre o assunto. Afinal o porte (por bandidos) de fuzis AR-15, metralhadoras, granadas e etc., como é comum observarmos em reportagens em todos os meios de comunicação, é só mais uma prova da ineficiência dos governos em combater o crime, pois a lei que impede os criminosos de utilizarem armamentos já existe, mas não existe a força para que ela se faça cumprir. Por outro lado, vem o Governo querer impor uma lei que facilmente será cumprida, pois vai abranger não aos criminosos, mas sim a cidadãos de bem. Só que estes, caro editor, já são e sempre serão cumpridores da lei e de suas responsabilidades.
Tenho muito orgulho de ter participado da segurança pública e mais ainda por ter feito parte de um grupo de elite de operações especiais, onde tive a oportunidade trabalhar ao lado de profissionais honrados e de colocar atrás das grades mais de uma centena de criminosos em tão curto espaço de tempo.
Quero continuar pensando assim e não me sentir traído por ter cumprido sempre com o meu dever.