Estou na luta o dia inteiro. Comecei cedo, pela manhã, enfrentando processos de todas as regiões do país, lidando com esperanças e anseios de tantos em tão distintos lugares. E hoje é feriado! Mas não tem importância, estou aqui assim mesmo, embora lá fora andem os vivos espalhando a saudade infindável dos mortos. Enfiei-me no trabalho e nem me lembrei de almoçar. Degluti os autos de tantos processos: de São Paulo, do Maranhão, de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul, do Rio de Janeiro. Em cada um deles, alguém que prestou serviços e se sentiu lesado nos seus direitos vem bater às portas da Justiça esperando uma resposta rápida. Mas a resposta rápida não pode vir. São centenas de milhares de processos a entulhar as prateleiras dos gabinetes e a gente a receber pedidos de SOS pungentes, acompanhados de lágrimas,de comunicados de doenças terminais, enfim, um muro de lamentações que deixa a alma condoída, porque as mãos não podem atender tantos reclamos a um só tempo.
Mas, cansado de corpo, estou de alma leve, depois de, ou bem ou mal, atender a 21 pedidos - este foi o maior número de casos que pude resolver num dia só, embora tenha me custado o sacrifício de uma refeição. Não tem importância, partirei para um "janmoço".