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Cartas-->DIZERUDITO = DIZAMIGO - Para Edmir Carvalho Bezerra -- 24/11/2005 - 17:57 (António Torre da Guia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DIZERUDITO = DIZAMIGO



DIZERUDITO = Quem lê ou ouve pronunciar este novo vocábulo de relance, terá a impressão que entende o contrário do que é profundo conhecimento e experiente saber. Assim é o título que engloba, em 70 páginas, alguns poemas de Edmir Carvalho Bezerra, pormenor que começa logo por dar que pensar ao leitor que gosta de saber o que lê.

O autor designa o conjunto deste seu trabalho por "arte povera", algo que um dos proficientes prefaciantes, Ivanildo Lopes, explica como sendo um "movimento artístico nascido em Itália que literalmente possui o significado que intui, mas que em ampla interpretação representa a simplicidade extraída das coisas, revelando o mundo por uma ótica inédita, inusitada, traçando caminhos inexistentes até então".

Após leitura corrente e releitura com esforço reflexivo, apercebi-me de que se trata, também, de um interessante método de conduzir os eventuais leitores, ainda que com menos recursos intelectuais, ao aprofundamento analítico do que, aparentando complexidade, pode ser extraído em singela e simples conclusão. Daí e em suma, quanto a mim, o mais que justificado título do perolífero livrinho.

Vamos então às pérolas, e estas, desde logo faceando o corriqueiro e deprimente ditado, podem ser lançadas a porcos, porque certo é que, sem prejuízo algum - ressalvando as naturais decepção e tristeza do autor - os simpáticos animais continuarão a não dar por nada.

Primeira Pérola

pobre arte do artista miserável
arte inteligente do artífice que desafia
artista inversivo no avesso do majestoso
no contrário do fogo queima-se no gelo
aglomeração de poeiras indignadas...

Ora, as trinta palavras expostas, sem muita dificuldade e quer se queira ou não queira, suscitam assunto que dá para escrever um grosso maço de páginas. Esta evidente constatação destaca uma das fulcrais preocupações de Edmir na apresentação do conteúdo: em muito pouco espaço intenta colocar um mundo.

Segunda Pérola

o ferro e sua ferrugem
sobre os pés
a língua
chamou a palavra grande
palavra feia
palavrão
pobre de mim disse a ferrugem...

Permita-se-me que tente uma das possíveis traduções à volta das palavrinhas que iniciam o brevíssimo poemeto "Ferrugem":

o corpo e seu suor
sobre a vida
com voz
chamou à mulher bonita
mulher feia
matrona
triste de mim, disse o suor...

A citada "arte poveira" solicita, pois, mais poesia ainda. Quem deveras goste de se estender ao longo do remanso-terrível jardim das palavras, Edmir, com sua peculiar expressão, dá ensejo e inspira os mais curiosos e estranhos desideratos.

Terceira Pérola

Ávido leitor, queria terminar a leitura naquela noite.
Sobre a prejudicante luz fina do abajour, o livro.
O romance se arrasta em fios e teias,
claros e escuros,
esse mais do que o outro exige recuos,
é preciso sempre olhar para trás...

À página 66 - eu tenho 66 anos! - após oito noites que tinha o "Dizerudito" à cabeceira, quando se me deparou a cena tão bem descrita, disse com os meus botões: - Diacho, este gajo julga que eu estou a dormir ou o que é que julga?...

E li segunda vez. Apre - isto é a vida toda a passar num ápice pelos miolos de um tipo que está deitado como eu...

Bem, não teço encómios literários a Edmir Carvalho Bezerra. Não caio na asneira de eruditar o dizerudito, não me atrevo a macular a "arte povera", uma arma essencial para derrubar o espaventado intelectualismo de cassete, igual ao da senhoreca livreira que, em lugar de me dar um não frontalmente firme, me disse: " - Senhor Torre da Guia, este género de poesia não tem mercado...".

Ah... Mercado?... Não tem, não. A poesia não se vende, dá-se. Fique tranquílo, Edmir: quando se for desta para melhor, quiçá o seu filhote dispare uma suada lágrima por saber que alguém come forte e feio à custa da "dizerudição" do pai.

"Dizabraço", Amigo, para que eu sinta pelo menos o esplendor real, após tantas palavras de "diznada". Quem mais quiser, que procure o colar. Não para colocar no pescoço, arre, mas tão-só, para introduzir suavemente dentro do cérebro e saborear as pérolas com a alma.

António Torre da Guia

Som = John Barry em "Maviola"

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