Não, talvez você não saiba o que é amar de verdade. É preciso sentir um amor assim, verdadeiro na sua essência, para que se possa avaliar, reconhecer, enxergar, envaidecer-se, agradecer a honra de ser o responsável, o receptor, o detentor de um sentimento dessa pureza, dessa grandeza, dessa natureza. Agradecer, não a quem sente esse amor por você, porque não é agradecimento que se deseja de quem a gente ama, mas à Vida e ao Criador, por saber-se infinita e eternamente tão amado. Agradecer, respeitando esse amor.
É necessário sentir a pele vibrar, o corpo aquecer ao tempo em que um calafrio o domina. Sentir as mãos se erguerem lentamente em busca do infinito, enquanto os lábios murmuram um pedido que brota da alma, em forma de prece, dando-se conta de que as lágrimas se misturam às águas do mar, transformando o que se pretendia ser tão somente um mergulho em suas águas mansas, num genuflexório, cuja almofada é a areia que recebe as suaves ondas de um azul tão puro e limpo quanto o sentimento que aflora nesse momento de oração inesperada e que transforma a imensa saudade e o também imenso vazio, num pleito regado do pranto que se extravasa sem controle para sua contenção.
É preciso se conscientizar de que até mesmo as férias precedidas das esperanças de minimização dos pensamentos que não calam um só momento sequer, não afastam, de forma alguma, a imagem do rosto querido, a voz que jamais será esquecida, a ternura, a admiração e o respeito que um dia foram presentes com intensidade, numa demonstração de correspondência dos sentimentos que jamais poderiam se modificar ou fenecer se verdadeiro e cristalino fosse o amor.
É importante ver-se dentro do mar, banhado de água da cabeça aos pés, sentindo o pranto incessante do inconformismo modificado pela sutil e remota esperança observada pela certeza da existência de um sentimento sem tamanho, que releva todas as palavras e atos inoportunos, insensíveis, desleais, contestáveis e contraditórios ante a possibilidade sem igual do real conhecimento de todos os valores, qualidades, atributos, princípios e inconteste essência inata do ser que se entregou, com transparência, de corpo e alma, concorrendo para que ele conhecesse os seus mais íntimos pensamentos e sentimentos, dignidade e honra, altivez e classe.
É preciso sonhar acordado no silêncio de toda e qualquer noite, observando e confidenciando com a lua, em qualquer de suas fases; com as estrelas cintilantes ou discretamente apagadas como se não fizessem do firmamento a sua morada; com o céu negro da madrugada de trevas ou do azul colorido artisticamente por nuvens brancas, quando o luar se faz presente; com cada uma das gotas da chuva fina ou da forte queda d’água durante as tempestades; com o travesseiro tão ouvinte, tão cúmplice, receptor do pranto incontrolável, companheiro dos pensamentos, da saudade e da tristeza, mas, também, o receptor do abraço apertado e dos beijos ternos quando a insana fantasia o transforma no corpo amado.
E seguir sonhando acordado, confidenciando com os pássaros, as flores, o trânsito, a música, a solidão acentuada pela concentração no ser tão amado que optou pela distância, pelo silêncio, pela indiferença, pelo desdém, pela ausência, pela ironia, pelo castigo, pelo esquecimento, pela falta de interesse, de reconhecimento, de valorização, de amizade, de carinho, de sensibilidade e que não é capaz de imaginar o tamanho, a sinceridade e a intensidade do amor que lhe é oferecido, mas que é rejeitado como se fosse um mal, uma doença maligna contagiosa, deteriorante e incurável. Incurável sim, mas, infelizmente, sem o condão do contágio, pois se assim fosse, não existiria a tristeza, o pranto, o inconformismo, a solidão.
Talvez você não saiba o que é amar de verdade, pois, se soubesse, não me transformaria neste ser que substituiu o sorriso pela lágrima, o otimismo pela desesperança, o universo pelo caos, a ânsia de viver pela tristeza e pelo vazio, a alegria pela amargura, a poesia por palavras sem nexo, sem sentido, sem rimas.
Certamente você não sabe o que é amar de verdade, pois, se soubesse, estaria aqui, junto a mim, devolvendo-me o meu verdadeiro eu.