ROMA (Reuters) - Esqueça o debate nos Estados Unidos sobre criacionismo versus evolução. Um tribunal italiano está questionando Jesus -- e se a Igreja Católica Romana está infringindo a lei ao ensinar que ele existiu há 2 mil anos.
O caso colocou frente a frente dois homens na casa dos 70 anos, da mesma cidade italiana e que frequentaram o mesmo seminário durante a adolescência.
O réu, Enrico Righi, tornou-se padre e escreve para o jornal de sua paróquia. O acusador, Luigi Cascioli, virou um ateu declarado que, após anos de burocracia legal, vai ter seu dia no tribunal no final deste mês.
"Entrei com esse processo porque quero dar o último pontapé contra a Igreja, defensora do obscurantismo e da regressão", disse Cascioli à Reuters.
Ele sustenta que Righi, e, por extensão, toda a Igreja, violaram duas leis italianas. A primeira é o "Abuso di Credulità Popolare" (Abuso da Credulidade Popular), criada para proteger o povo contra golpes e esquemas. O segundo crime, diz ele, é "Sostituzione di Persona", ou falsa identidade.
"A Igreja construiu Cristo a partir da personalidade de João de Gamala", diz Cascioli, se referindo ao judeu do século 1 que lutou contra o exército romano.
Um tribunal em Viterbo vai ouvir Righi, que ainda não foi indiciado, numa audiência preliminar em 27 de janeiro. Na ocasião, será determinado se o caso tem mérito suficiente para continuar.
"No meu livro, Fábula de Cristo, apresento provas de que Jesus não existiu enquanto figura histórica. Agora ele deve refutar isso mostrando provas da existência de Cristo", disse Cascioli.
Em entrevista à Reuters, Righi, 76, parecia frustrado com a situação e sem entender por que Cascioli -- que, como ele, nasceu na cidade de Bagnoregio -- o escolheu em sua cruzada contra a Igreja.
"Somos os dois de Bagnoregio. Freqüentamos o seminário juntos. Aí ele escolheu outro caminho e nunca mais nos vimos", disse Righi.
"Como sou um padre e escrevo no jornal da paróquia, ele está me processando porque eu "engano" as pessoas".
Righi afirma que há muitas provas da existência de Jesus, incluindo textos históricos. Ele diz ainda que a Justiça está ao seu lado. O juiz que vai presidir a audiência tentou, várias vezes, arquivar o caso.
"Cascioli diz que ele não existe. Eu digo que ele existe", afirmou. "O juiz é quem vai decidir se Cristo existe ou não".
Mesmo Cascioli admite que suas chances são mínimas, especialmente na Itália Católica Romana.
"Vai ser um milagre se eu ganhar", brincou.
Uol Notícias, 04/01/2006 - 19h45.
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