Pai, arrancai de dentro de mim este amor que só me faz sofrer. Já me mostrastes o quanto ele é imenso, o quanto é maravilhoso sentir tanto amor assim, mas também me mostrastes que ele pertence a quem não o dignifica, não o merece.
Vós sabeis quantas lágrimas foram arrancadas do meu peito, quão pequeno é o coração de quem não ama, não por não amar, mas por não saber ser amado, destilando fel ao crer na remota possibilidade de transformar esse nobre sentimento que nutro em minha alma.
Não, Pai! Já não peço que extraias do meu ser essa bênção divina que me foi concedida, mas rogo, por piedade, não mais permitais que seja o ser amado o dono de todos os meus pensamentos, de todos os meus sonhos, de todas as minhas esperanças.
Permitais, Senhor, que esse amor se cale no meu âmago, devolvendo-me a alegria, a paz, a crença no ser humano, a fé na capacidade de o ser que amo ter me amado um dia, para que eu não mais me sinta usada, violentada, tendo os meus sonhos destruídos por ele, pela infelicidade que tive de acreditar na lisura dos seus sentimentos por mim, abrindo-me por inteiro a ele, entregando-me de corpo e alma.
Em razão da Vossa soberana Vontade e Amor, eu vos peço, Pai, façai-o feliz, muito feliz, e pemitis que, em algum momento desta vida, ele se conscientize do quanto foi injusto e cruel comigo, duvidando, até, da minha dignidade. Que ele se conscientize, também, de quantos erros cometeu ao afastar-me por vias impróprias, esquecendo-se da sublimidade do sentimento que nos uniu.
Permitais, Senhor, que as pedras em que tropeçamos sejam as mesmas que se colocarão sobre todos os abismos abertos entre nós, para que reste, pelo menos, a saudade que um amor como o vivido por nós, merece ser sentida.
Que seja o presente eivado da confiança que cabe existir entre dois seres que conhecem suas almas e seus poros, mutuamente, em razão de um passado que proporcionou a entrega ilimitada e incontestável dessas duas almas.
Que sejais Vós o eterno guardião do nosso futuro, neste ou noutro plano.
