De repente, esqueci totalmente que já tinha vivido meio século. E, como num passe de mágica, deixei escapar, por todos os poros, a adolescência que vivia escondida no mais íntimo do meu ser.
Permiti-me a paixão novamente. O envolvimento, as viagens da mente e do coração. Deixei que este, sem escrúpulos, sem medos, sem sombras, extravasasse, quiçá, o que jamais tinha exteriorizado, transformando em realidade o que antes fazia parte tão somente dos sonhos, das poesias, das lembranças não vividas ou, quem sabe, vividas em outras vidas.
Vi-me fascinada ante tudo que se me apresentava naquele momento. Vislumbrei a chegada do sempre tão esperado - porque a esperança jamais me abandonou - príncipe encantado, coisa que eu passara a acreditar existir somente em poemas, fábulas, romances, filmes, histórias que o povo conta.
E jamais fui tão feliz! Nem posso dizer que ele chegou de mansinho, nem o príncipe, nem o amor, porque tudo nasceu como uma avassaladora paixão que tomou conta de todo o meu ser, mais ainda porque sentia correspondência total e absoluta.
E nos entregamos, nos amamos como jamais imaginei pudesse ser amada e amar. Paramos relógios, estancamos o tempo, transformamos distâncias em “olho no olho”, abrimos nossos corações, nos permitimos nos conhecermos integralmente, docemente, fielmente, crendo termos encontrado, enfim, o tão sonhado ser que nos completava, que vinha de outras vidas, que estava se unindo a nós por toda a eternidade.
Senti-me muito mais bonita, muito mais mulher! Simultaneamente, transformei-me em menina, deixei fluir naturalmente toda minha meiguice, toda minha sinceridade, toda minha esperança, toda minha alegria!
Tudo isso eu queria dar a ele! E dava! A minha beleza interior e a externa, a minha ternura, a minha fidelidade, os meus sorrisos, a minha compreensão, o meu ombro amigo, a minha solidariedade, o meu respeito, a minha admiração, a minha amizade, o meu carinho, a minha cumplicidade, o meu amor. E cri, sem medo de errar, que tudo isso era o que ele buscava ao me encontrar, e que tudo isso o faria o mais feliz dos homens!
Eu o amava com todas as minhas forças e era assim que também me sentia amada. E me deslumbrava com suas atitudes e palavras repletas de carinho e amor, me encantava com os seus cuidados, com a sua proteção, com a sua necessidade de me mostrar o quanto me amava, inserindo-me em todos os seus projetos, demonstrando, com transparência (era assim que eu via) que eu era o seu presente e o seu futuro, a sua eternidade.
Terei sonhado durante tanto tempo? Estarei ainda sonhando? Tudo está nublado para mim, não encontro respostas para tantas perguntas e a que mais temo é a de que eu realmente tenha acordado de repente, de um sonho ou de um pesadelo.
Porque dos meus pensamentos ele não se ausenta e nos meus sonhos ele continua presente, atuante, amante, fazendo parte de cada momento da minha vida.
Mas, há momentos que eu tenho a sensação de que alguém me empurra para fora da cama e, ao olhar para baixo, vejo apenas um imenso e escuro abismo, onde ele não se encontra, não me espera com seus braços abertos como sempre o fez, não está ali para me amparar, me proteger, repetir que o seu amor é tão imenso que nada, nem ninguém poderá nos separar, que nosso amor driblará todas as barreiras que se erguerem à nossa frente.
Nos meus sonhos, ele continua me amando tanto quanto eu o amo e, por isso, eu não quero acordar! Não posso acordar! Luto, intimamente, contra essa força que tenta me empurrar, me despertar, me machucar, me atirar nessa cova escura onde não o terei ao meu lado. E viro de lado e volto a sonhar, porque ele me ensinou que os sonhos podem se transformar em realidade e, por acreditar nele, eu jamais perderei a esperança de que estou tão somente passando por um soninho longo, muito longo, mas que, quando acordar, o terei nos meus braços. E poderei, enfim, ser feliz e transformá-lo, mais uma vez, no homem mais feliz do planeta!