Hoje é o dia mundial de combate ao câncer. Por isso achei importante divulgar um texto sobre suas causas e prevenção. A maior causa de câncer é o tabaco; mas há muitas outras. E várias delas juntas aumentam as chances do desenvolvimento da doença.
"Câncer: causas e prevenção
Designação genérica para doenças que se caracterizam pelo crescimento autônomo e desordenado das células, o câncer atinge cerca de nove milhões de pessoas e mata cinco milhões por ano segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Embora sua incidência remonte às épocas mais remotas, os tipos de câncer mais virulentos como os de pulmão, mama, próstata, cólon e reto vêm se manifestando com uma freqüência cada vez maior nos países em que o fumo, hábitos alimentares pouco saudáveis e a exposição a substâncias tóxicas no trabalho ou no meio ambiente se tornaram comuns.
À medida que a humanidade avança nos campos da ciência e da tecnologia, aumentam também as suspeitas sobre as possíveis causas do câncer. Essas suposições abrangem desde novos medicamentos a telefones celulares. Para se obter informações mais confiáveis sobre o assunto e separar aquilo que tem fundamento do que não passa de mera especulação, os cientistas se baseiam sobretudo em estudos epidemiológicos. Após identificar os fatores comuns entre as vítimas de um câncer, os pesquisadores decidem se a exposição prolongada a eles aumentaria o risco de a doença se desenvolver ou não. Ao longo do século XX a epidemiologia tem permitido aos pesquisadores não apenas descobrir várias causas ambientais (não hereditárias), como também estimar quantas mortes por câncer poderiam ser atribuídas a cada uma. O resultado desse trabalho se revela útil para aqueles que desejam minimizar a exposição a agentes causadores de câncer ou carcinógenos.
Aparentemente, o câncer se manifesta devido à ação de dois tipos diferentes de carcinógenos. Uma categoria abrange os agentes que alteram os genes responsáveis pela proliferação e migração das células. O mal surge quando uma célula sofre grande número de mutações incontroláveis. As mutações levam essa célula e seus descendentes a sofrer mais modificações e a gerar outras com as mesmas características, formando um tumor (acúmulo de células) composto quase inteiramente de células anormais, ou seja, um tumor maligno. A outra categoria compreende agentes que, embora não alterem os genes, favorecem o crescimento de células malignas. O maior perigo dos tumores malignos é justamente sua capacidade de se espalhar para outras partes do corpo (metástase) e comprometer algum órgão vital.
Ninguém mais duvida que a exposição permanente de uma parte do corpo a determinadas substâncias, como as presentes na fumaça do cigarro, pode alterar as células e levar ao câncer. No entanto, ainda não se desvendou por completo esse e outros mecanismos. Segundo uma teoria, fatores ambientais estressantes como a idade avançada teriam alguma influência no processo por elevar o número dos radicais livres do corpo. Radicais livres são átomos ou moléculas extremamente reativos dotados de um elétron desemparelhado. Ao reagir com o ADN dos genes, esses fragmentos moleculares são capazes de alterar o gene e fazê-lo passar por uma mutação permanente. Outros agentes responsáveis pelo aparecimento de cânceres, como alguns tipos de vírus, parecem agir de forma diferente, acelerando a velocidade da divisão celular.
Os genes herdados também influem no desenvolvimento de um câncer. Algumas pessoas nascem com mutações em genes responsáveis pelo crescimento celular. Essas mutações podem desencadear o crescimento exagerado de algumas células ou gerar mais alterações. Felizmente, essas mutações são raras e responsáveis por menos de 5% dos casos de morte por câncer. Por outro lado, algumas características físicas herdadas são capazes de favorecer o aparecimento de alguns tipos de câncer. A pele clara, por exemplo, torna a pessoa mais suscetível ao câncer de pele. No entanto, o mal só se manifesta após exposição excessiva ao sol, um carcinógeno ambiental. O surgimento de um câncer depende da intensidade e do tempo de exposição das células aos agentes causadores. Quem possuir genes menos aptos a deter a ação de determinados carcinógenos terá mais possibilidade de desenvolver um câncer após longa exposição a eles do que alguém com genes mais resistentes.
Segundo estudos epidemiológicos, o ambiente - incluindo-se aí o meio ambiente (água, terra e ar), o ambiente ocupacional (indústrias químicas e afins), o ambiente de consumo (alimentos e medicamentos) e o ambiente social e cultural (estilos e hábitos de vida) - exerce uma enorme influência no surgimento de cânceres. No entanto, ninguém pode determinar exatamente o quanto. Para obter essa resposta seria necessário selecionar um grupo de pessoas de forma aleatória e expô-las a supostos carcinógenos ou fazê-las experimentar novos compostos químicos para a prevenção do câncer. Um estudo epidemiológico só identifica uma causa de câncer quando várias pessoas com uma determinada doença apresentam um longo histórico de exposição a um determinado agente. Relacionamos a seguir os principais fatores apontados como responsáveis pelo aparecimento de cânceres.
Fumo Segundo milhares de pesquisas reconhecidas pela OMS, 90% dos casos de câncer de pulmão estão relacionados ao fumo. Nos Estados Unidos, cerca de 30% das mortes por câncer são atribuídas a esse hábito. Durante a inalação da fumaça de cigarros, charutos e cigarrilhas, a pessoa introduz no organismo mais de 4.700 substâncias tóxicas, inclusive nicotina, monóxido de carbono (o mesmo gás venenoso expelido do cano de descarga dos automóveis), alcatrão - que reúne 43 substâncias cancerígenas -, agrotóxicos e substâncias radioativas que causam câncer.
Além do câncer de pulmão, o fumo, especialmente o de cigarros, provoca câncer no aparelho respiratório superior, esôfago, vesícula, pâncreas e provavelmente no estômago, fígado e rins. Há também suspeitas de que o hábito provoque leucemia mielocítica crônica - um tipo específico de leucemia - (câncer que se caracteriza pela proliferação de células sangüíneas brancas) bem como câncer do cólon e do reto. Quanto maior o número de cigarros fumados por dia e a quantidade de alcatrão presente no cigarro, maior o risco de surgir um tumor maligno. Começar a fumar bem cedo também eleva essa possibilidade.
De acordo com pesquisas realizadas nos Estados Unidos, o fumo passivo - inalação da fumaça do tabaco no ambiente - causa muito menos câncer de pulmão do que o fumo ativo. No entanto, milhares de pessoas nos Estados Unidos morrem todo ano de cânceres atribuídos à fumaça do cigarro alheio. Esse resultado levou pesquisadores a afirmar que o fumo passivo no país apresenta um potencial de letalidade igual à poluição ambiental ou a exposição ao gás radônio, expelido naturalmente do solo em alguns locais.
Hábitos alimentares Depois do fumo, a dieta alimentar ocupa o segundo lugar entre as causas de câncer na maioria dos países desenvolvidos. Diversos estudos epidemiológicos relacionam hábitos alimentares com o surgimento de cânceres, especialmente os de mama, cólon, reto, próstata, esôfago e estômago.
Populações que consomem grandes quantidades de enlatados, por exemplo, apresentam altos índices de câncer de estômago. Atribui-se esse fato aos nitritos (sal do ácido nitroso) usados para melhor conservação dos produtos. Em contato com o estômago, os nitritos se transformam em nitrosaminas, um conhecido agente cancerígeno. Há também vários registros de câncer de estômago em locais onde se come muito churrasco e defumados, pois esses alimentos absorvem o alcatrão da fumaça do carvão, uma substância cancerígena igualmente encontrada na fumaça do cigarro.
Regiões pobres que preservam os alimentos com sal por não disporem de métodos de conservação adequados como geladeiras sofrem com um grande número de casos de câncer de estômago e de esôfago. Crianças do sudeste asiático que consomem muito peixe salgado apresentam um alto índice de câncer da nasofaringe (a parte superior da faringe, que se liga à cavidade nasal).
O elevado consumo de alimentos ricos em gorduras como carnes vermelhas, frituras, maionese, enlatados, leite integral e derivados parece favorecer o surgimento e a disseminação de células cancerosas no cólon, reto e próstata. Pesquisas também sugerem que uma dieta pobre em fibras e com alto teor de gordura e nível calórico - como os lanches à base de hambúrguer, batata frita, refrigerante e sorvete - contribuem para o desenvolvimento de câncer de cólon, de reto e de mama. Acredita-se que a menor quantidade de fibras no organismo desacelere o processo digestivo e favoreça uma exposição mais prolongada da mucosa intestinal aos agentes cancerígenos provenientes dos alimentos. No Brasil, onde a ingestão de fibras é baixa, existe uma incidência significativa de câncer de cólon e reto. No Sul, Sudeste e Centro-Oeste, regiões que consomem mais gordura, ocorre o maior número de casos de câncer de mama.
O tipo de calorias ingeridas, assim como a quantidade também pode acarretar efeitos indesejáveis. Crianças que comem demais e se exercitam pouco em geral crescem mais depressa e parecem mais propensas a determinados tipos de cânceres, especialmente o de mama. O desenvolvimento precoce das meninas as leva a menstruar mais cedo, um dos principais fatores relacionados ao câncer de mama. De acordo com estudos realizados nos Estados Unidos, a obesidade na vida adulta constitui uma causa importante do câncer do endométrio (revestimento do útero) e talvez do câncer de mama após a menopausa. Por razões ainda desconhecidas, a obesidade parece também aumentar o risco de cânceres do cólon, rins e vesícula biliar.
Algumas mudanças nos hábitos alimentares podem ajudar a reduzir os riscos de um câncer, bem como contribuir para a prevenção de doenças cardíacas, obesidade e diabetes. Frutas, verduras, legumes e cereais integrais contêm nutrientes, tais como vitaminas, fibras e outros compostos, que ajudam as defesas naturais do corpo a destruir os carcinógenos antes que eles causem danos às células. Esses tipos de alimentos podem também bloquear ou reverter os estágios iniciais do processo de carcinogênese e, portanto, devem ser consumidos com freqüência e em grande quantidade.
A presença de fibras auxilia a reduzir a formação de substâncias cancerígenas no intestino grosso, além de reduzir a absorção de gorduras. Alimentos como verduras, frutas, legumes e cereais são ricos em vitaminas C, A, E e fibras. Deve-se incentivar a ingestão de cebola, brócolis, repolho e couve-flor, legumes vermelhos ou amarelos (cenoura, abóbora, batata-baroa, batata-doce etc.) e folhas em geral. O mesmo se aplica em relação a frutas como laranja, caju, acerola e mamão. Vale lembrar que uma dieta saudável só funcionará como fator protetor se adotada constantemente no decorrer da vida. A tendência cada vez maior da ingestão de vitaminas em comprimidos não substitui uma boa alimentação e só deve ser feita com orientação médica.
Além de maior atenção à dieta, convém sempre estar atento às condições de armazenamento de alimentos. Grãos e cereais guardados em ambientes sujos e úmidos podem favorecer a contaminação pelo fungo aspergillus flavus, responsável pela produção da aflatoxina, uma substância cancerígena. Junto com o vírus da hepatite B, a aflatoxina está relacionada ao desenvolvimento do câncer de fígado.
Álcool O consumo de grandes doses de bebidas alcoólicas, especialmente entre fumantes, aumenta o risco de câncer nos aparelhos respiratório e digestivo superiores. Além disso, a cirrose alcoólica em geral resulta em câncer de fígado. Embora beber moderadamente aparentemente reduza o risco de doenças cardiovasculares, algumas pesquisas sugerem que o consumo de apenas um ou dois drinques por dia possa contribuir para o aparecimento de câncer de mama, cólon e reto. Nos países desenvolvidos, estima-se que o consumo de bebidas alcoólicas contribua para cerca de 3% das mortes por câncer. Uma vida sedentária elevaria essa possibilidade em mais 3%.
Medicamentos Poucos medicamentos e procedimentos médicos são totalmente inócuos e alguns infelizmente produzem efeitos cancerígenos. Seus benefícios, no entanto, compensam os riscos, sobretudo no caso de algumas terapias contra o câncer como radiação e quimioterapia.
Nos Estados Unidos, estima-se que algumas drogas ou combinações de drogas usadas no combate de cânceres como a doença de Hodgkin possam causar leucemia em cerca de 5% dos sobreviventes e, em casos mais raros, câncer de bexiga.
Imunosupressores - medicamentos usados em pacientes com órgãos transplantados ou com doenças de auto-agressão - também parecem ser capazes de causar determinados tipos de linfomas.
A reposição de estrogênio após a menopausa tem sido associada ao câncer do endométrio e de mama. Embora os primeiros relatórios sobre o tamoxifeno, uma droga experimental contra o câncer de mama, indicassem que seu uso acarretaria câncer do endométrio, estudos mais recentes contestam essa tese. Há suspeitas segundo as quais drogas estimuladoras da fertilidade que reproduzem os efeitos das gonadotrofinas - hormônios segregados pela hipófise que estimulam as glândulas reprodutoras - aumentem o risco de câncer nos ovários. Anticoncepcionais orais aparentemente favorecem o surgimento de alguns tumores de fígado e, em casos mais raros, o câncer de mama durante a pré-menopausa. Por outro lado, as pílulas anticoncepcionais também reduzem a possibilidade de câncer nos ovários e endométrio e, provavelmente, no cólon e no reto.
Fatores ocupacionais O grande volume de substâncias químicas utilizadas na indústria representa um fator de risco de câncer para trabalhadores de várias ocupações. Se o trabalhador também for fumante, o perigo aumenta ainda mais, visto que o fumo eleva o potencial cancerígeno de muitas substâncias. A descoberta de que determinadas substâncias seriam cancerígenas deveu-se a "experiências involuntárias" em que trabalhadores ficavam expostos a altas concentrações de produtos tóxicos durante longos períodos.
Algumas substâncias como o asbesto, encontrado em materiais como fibras de amianto ou cimento; as aminas aromáticas, usadas na produção de tintas, e os agrotóxicos agem em especial sobre a bexiga, enquanto os hidrocarbonetos aromáticos, encontrados na fuligem, parecem atuar sobre as células da pele e sobre as vias respiratórias e pulmões. O benzeno, uma substância usada na produção de carvão em indústrias siderúrgicas e como solvente de tintas e colas atinge principalmente a medula óssea, podendo provocar leucemia. Outros produtos cancerígenos passam pela circulação do sangue e chegam ao fígado, onde suas moléculas são quebradas e dão origem a novas substâncias (metabólitos), muitas vezes mais tóxicas do que as originais.
O câncer provocado por exposição ocupacional geralmente atinge regiões do corpo que estão em contato direto com as substâncias cancerígenas, seja durante a fase de absorção (pele, aparelho respiratório) ou de excreção (aparelho urinário), o que explica a maior freqüência de câncer de pulmão, de pele e de bexiga nesse tipo de caso. A falta de conhecimento dos trabalhadores sobre os riscos que correm e a ausência de campanhas ou informações sobre o assunto contribuem para a maior incidência de câncer resultantes do ambiente ocupacional, sobretudo nos países em desenvolvimento. Nos países desenvolvidos existe uma maior preocupação em evitar a exposição exagerada dos trabalhadores a substâncias cancerígenas. Graças à adoção de medidas de controle nos locais de trabalho nos países desenvolvidos entre 1950 e 2000, o número de casos de morte por câncer devido ao ambiente ocupacional caiu para menos de 5%.
Relacionamos abaixo as principais substâncias tóxicas conhecidas e as partes do corpo que atingem, além das neoplasias (tumores) mais comuns entre alguns profissionais.
Substâncias tóxicas
Locais primários dos tumores Nitrito de acrílico Pulmão, cólon e próstata Alumínio e seus compostos Pulmão Arsênico Pulmão, pele e fígado Asbesto Pulmão, serosas, trato gastrointestinal e rim Aminas aromáticas Bexiga Benzeno Medula óssea (leucemia mielóide) Benzidina Bexiga Berílio e seus compostos Pulmão Cádmio Próstata Cromo e seus compostos Pulmão Álcool isopropílico Seios paranasais Borracha Medula óssea e bexiga Compostos de níquel Pulmão e seios paranasais Pó de madeiras Seios paranasais Radônio Pulmão Tinturas de cabelo Bexiga Material de pintura Pulmão
Ocupação
Neoplasia Marceneiro Carcinoma de nariz e seios paranasais Sapateiro Carcinoma de nariz e seios paranasais Limpador de chaminé Carcinoma de pele, pulmão e bexiga
Radiação
Ao contrário do fumo e dos hábitos alimentares, outros fatores de risco, embora menos perigosos, são mais difíceis de evitar. É o caso das radiações. As fontes de radiação mais conhecidas incluem o sol, linhas de alta tensão, eletrodomésticos, telefones celulares e radônio, um gás natural. Segundo estudos realizados nos Estados Unidos, a radiação seria responsável por cerca de 2% de todas as mortes por câncer no país. A maioria das mortes se deveria aos raios ultravioleta do sol, capazes de desencadear o melanoma, o mais temido tipo de câncer de pele. No Brasil, onde a população se expõe demais e descuidadamente ao sol, o câncer de pele é o tipo mais freqüente no país de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Corresponde a cerca de 25% de todos os tumores diagnosticados em todas as regiões geográficas.
Dentro do espectro ultravioleta que chega à superfície terrestre, os raios de freqüência mais alta UV-B são os mais perigosos devido à sua capacidade de danificar o ADN. Ultimamente, sua ocorrência tem aumentado em função da destruição da camada de ozônio. Os raios UV-A, por sua vez, independem da camada de ozônio e podem causar câncer de pele em quem se expõe a eles em horários de sol forte, continuamente e ao longo de muitos anos, especialmente nas pessoas de pele clara.
Segundo pesquisas, a exposição cumulativa e excessiva durante os primeiros dez a vinte anos de vida aumenta o risco de câncer de pele. A infância parece ser uma fase particularmente vulnerável aos efeitos nocivos do sol sobre esse órgão. Alguns cientistas acreditam que a quantidade de queimaduras solares sofridas na infância talvez seja a principal causa do aparecimento do melanoma, e não os efeitos cumulativos da exposição ao sol.
De qualquer forma, quem deseja evitar o câncer de pele e outras lesões provocadas pelos raios UV precisa seguir aqueles cuidados básicos na hora de se bronzear: fazer uso de chapéus, guarda-sóis, óculos escuros e filtros solares durante qualquer atividade ao ar livre e não se expor ao sol nos horários em que os raios ultravioleta são mais intensos, ou seja, das 10 às 16 horas. Grandes altitudes requerem cuidados extras. A cada 300m de altitude, a intensidade da vermelhidão produzida na pele pela luz ultravioleta aumenta em cerca de 4%. A neve, a areia branca e as superfícies pintadas de branco são refletoras dos raios solares. Portanto, nessas condições, os cuidados devem ser redobrados.
Outra fonte de radiação natural é o radônio, um gás radioativo, incolor e inodoro expelido do fundo da terra em algumas regiões. Esse gás pode penetrar nos prédios e se concentrar nos andares térreos ou nos porões. A aspiração de altas doses desse gás durante longos períodos em minas tem sido relacionada a uma maior incidência dos casos de câncer de pulmão. No entanto, a emissão de radônio não constitui uma causa significativa de câncer entre a população. Além disso, sua concentração pode ser minimizada com melhores condições de ventilação nos prédios e nas minas.
A suspeita segundo a qual campos elétricos e magnéticos de baixa freqüência gerados por linhas de alta tensão e eletrodomésticos provocassem câncer levou à realização de várias pesquisas. Mas os resultados obtidos até o momento foram confusos e mal interpretados, gerando uma apreensão injustificada. A radiação proveniente dessas fontes só acarretaria mutações genéticas capazes de gerar um câncer se as moléculas no corpo ganhassem ou perdessem um ou mais elétrons, ou seja, se ficassem ionizadas. Além disso, os fótons associados a campos de freqüência extremamente baixos teriam de apresentar uma potência um milhão de vezes maior para que pudessem ionizar as moléculas. Para se chegar a esse ponto, os fótons - partículas dos campos magnéticos - dos campos de baixa freqüência teriam de ser um milhão de vezes mais potentes.
No entanto, de acordo com estudos epidemiológicos, esses campos talvez sejam capazes de elevar minimamente o risco de leucemia entre crianças. As suspeitas de que causariam outros tipos de câncer se revelaram inconsistentes. Não é possível descartar por completo a hipótese segundo a qual as linhas de alta tensão contribuiriam para alguns cânceres, mas os resultados apresentados até o momento ainda não são conclusivos. Mesmo em relação à leucemia infantil ainda existem muitas dúvidas. O temor em relação aos campos de baixa freqüência se deve às associações incorretas com outras formas de radiação e à ampla divulgação pela imprensa de estudos preliminares.
Ao contrário da radiação proveniente dos campos de baixa freqüência, a radiação eletromagnética de radiofreqüência - emitida por telefones celulares e aparelhos de microondas - se encontra numa faixa bem mais alta. Mas mesmo nessas radiofreqüências mais altas, a energia necessária para a ionização de uma molécula está muito abaixo do nível exigido. Até o momento os cientistas não identificaram nenhuma ligação entre as ondas de rádio emitidas pelos telefones celulares e o câncer no cérebro.
Por outro lado, não resta dúvida de que a radiação resultante de material nuclear apresenta a potência necessária para ionizar uma molécula e causar câncer. Estudos feitos com sobreviventes da explosão das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki e com pacientes submetidos à radioterapia, mostraram que o risco de câncer aumenta em proporção direta à dose de radiação recebida. Nesses casos, os tecidos mais sensíveis às radiações ionizantes são o hematopoético - responsável pela formação e desenvolvimento das células sangüíneas - , o tireoidiano, o mamário e o ósseo. As leucemias ocorrem entre dois e cinco anos após a exposição, e os tumores sólidos, como os linfomas, surgem entre cinco e dez anos. O risco de desenvolvimento de um câncer é maior quando a exposição à radiação aconteceu na infância.
De acordo com o INCA, a principal fonte de radiação ionizante no Brasil hoje são os exames radiológicos. O uso abusivo de abreugrafias - método usado para fixar a imagem observada pela radioscopia - , feitas em aparelhos antigos e mal conservados, submete a população a um excesso de radiações ionizantes. A dose utilizada para uma única abreugrafia corresponde à dose de dezenas de teleradiografias de tórax. O menor custo da abreugrafia, o tradicionalismo do seu uso e um suposto nacionalismo são argumentos freqüentemente utilizados para se justificar a sua solicitação excessiva. Além disso, diversas empresas exigem a sua realização na hora de admitir novos funcionários. Felizmente, nos últimos anos, os critérios técnicos vêm se impondo, limitando a utilização da abreugrafia. O mesmo teria de ocorrer em relação a outros exames radiológicos.
Poluição ambiental É difícil determinar o quanto a poluição do ar, da água e do solo afetaria o surgimento de cânceres. Os efeitos nocivos resultam em geral da exposição a vários tipos de carcinógenos em níveis bem baixos. No entanto, cientistas acreditam que os poluentes ambientais possam contribuir para cerca de 2% dos cânceres fatais, sobretudo os de pulmão e vesícula.
Segundo pesquisas ecológicas, que se assemelham bastante às epidemiológicas, os casos de câncer de pulmão são mais freqüentes nos centros urbanos do que nas zonas rurais. Além disso, estudos sugerem que os fumantes das cidades apresentam maior propensão a desenvolver câncer de pulmão do que fumantes de áreas rurais.
Recentemente, levantou-se a suspeita segundo a qual o cloro aplicado à água poderia causar câncer de bexiga. A maioria da comunidade científica, no entanto, considerou os resultados desses trabalhos falhos. No mundo todo e especialmente nos países em desenvolvimento o cloro é usado para tratamento de água potável. Mesmo que a aplicação de cloro na água elevasse um pouco o risco de câncer, não seria aconselhável suspender essa prática, uma vez que ela evita a disseminação de doenças transmitidas pela água não-tratada como cólera, disenteria e febre tifóide.
Hábitos sexuais Pesquisas revelaram uma relação entre hábitos sexuais e o aparecimento de alguns tipos de câncer. Promiscuidade sexual, falta de higiene, ingresso precoce na vida sexual, bem como variedade de parceiros e a não utilização de preservativos contribuiriam para o aparecimento do câncer do colo do útero (porção inicial e mais estreita do útero) ou câncer cervical, pois aumentariam a exposição a vírus cancerígenos sexualmente transmissíveis. O herpes vírus tipo II e principalmente o papilomavírus humano (HPV) são os vírus mais comumente associados ao câncer do colo do útero.
Transmitida sexualmente, a infecção pelo HPV pode surgir nos primeiros anos de atividade sexual. No entanto, a célula infectada demora entre treze a quinze anos para se transformar numa lesão pré-cancerosa e pode não apresentar sintoma algum durante esse período. Quando a pequena verruga que se forma no colo do útero é retirada precocemente, afasta-se o risco de câncer. Caso contrário, a lesão pode se transformar num tumor maligno invasivo. A cada ano surgem cerca de quinhentos mil novos casos de câncer de colo uterino no mundo e 80% das mortes acontecem em países em desenvolvimento. São estatísticas alarmantes, uma vez que o exame ginecológico rotineiro permite identificar o problema numa fase em que o tratamento oferece 100% de cura.
O herpes vírus tipo II provoca o herpes genital, uma doença que se caracteriza pelo aparecimento de pequenas lesões em forma de bolhas nos genitais, saco escrotal, nádegas, ânus ou coxas que causam queimação e coceira. Depois do surto inicial, o vírus permance "adormecido" em terminações nervosas e pode voltar a se manifestar quando a pessoa enfrenta estresse, gripe e baixa de imunidade. Trata-se de uma doença altamente contagiosa quando há lesão ativa (bolhas). Embora não seja possível evitar novas manifestações do mal, alguns antivirais parecem diminuir a duração dos sintomas e aumentar o intervalo entre os surtos. Não há provas de que o herpes cause câncer, mas estudos indicam que as mulheres com anticorpos do herpes vírus tipo II apresentam maior propensão a desenvolver um câncer do colo do útero do que as que não possuem esses anticorpos. Uma mulher com herpes genital não é necessariamente uma cadidata ao câncer cervical, no entanto, ela deve ser prudente e realizar o exame ginecológico (Papanicolau) a cada seis meses.
Existem diversos vírus sexualmente transmissíveis capazes de favorecer outros tipos de câncer. O vírus da imunodeficiência adquirida (HIV) pode desencadear o sarcoma de Kaposi - um tipo de câncer de pele resultante de uma infecção provocada pelo herpes vírus VIII - , bem como o câncer de língua e de reto em pacientes portadores da AIDS quando se liga a outros vírus como o citomegalovírus - um tipo de herpes vírus - e os herpes vírus I e II. O vírus HTLV-I (Human T-cell leukemia/lymphoma virus) - um tipo de vírus como o HIV-1 e HIV-2 -
está associado a leucemias e ao linfoma de linfócitos T e o vírus da hepatite B ao câncer de fígado.
Fatores ginecológicos e relacionados à reprodução Embora ainda não se saiba o motivo, estudos epidemiológicos constataram que a menarca (primeira menstruação) precoce, bem como a primeira gravidez e menopausa tardias parecem elevar o risco de câncer de mama. Especula-se que essas duas manifestações ginecológicas prolonguem o período em que a mulher se encontra mais exposta à ação dos seus próprios hormônios, sobretudo ao estrogênio. Observou-se também que quanto mais filhos uma mulher tiver, menor a possibilidade de desenvolver câncer do endométrio, ovário ou mama. Cientistas suspeitam que ter filhos cedo possa tornar as células mamárias mais diferenciadas. Essa diferenciação restringiria a habilidade de uma célula de crescer de forma anormal, mudar sua constituição e sobreviver em outros tecidos. Depois que as células mamárias tivessem sofrido uma diferenciação devido a uma gravidez precoce, elas se tornariam bem menos suscetíveis aos carcinógenos.
Nos países desenvolvidos, a maioria das mulheres tem adiado os planos de ter filhos ou tido bem menos do que suas mães e avós por motivos financeiros ou temor que a maternidade prejudique a carreira. Infelizmente, tais decisões levarão a um aumento dos casos de câncer de mama e ovário. Segundo estimativas feitas nos Estados Unidos, o adiamento da primeira gravidez entre mulheres americanas deverá aumentar o índice de câncer de mama entre 5 a 10% nos próximos 25 anos.
Diferenças socioeconômicas As diferenças na incidência de câncer entre grupos socioeconômicos podem ser atribuídas a diferenças no estilo de vida. Pessoas mais pobres apresentam uma maior incidência de cânceres de boca, estômago, pulmão, cervical, fígado e um tipo de câncer de esôfago. A pobreza pode ser incluída como uma das causas porque quase sempre está associada ao maior consumo de cigarros, bebidas alcoólicas, dieta inadequada e exposição a agentes infecciosos. Por outro lado, por motivos ainda desconhecidos, os cânceres de mama, próstata, entre outros, ocorrem com mais freqüência entre grupos de maior poder aquisitivo. Alguns cientistas acham que o crescimento exagerado devido à menor atividade física e alimento em excesso possa aumentar o risco desses cânceres, mas essa hipótese carece de maior embasamento científico.
Os fatores socioeconômicos também parecem ser responsáveis pelas diferenças na incidência de câncer entre as raças. O estilo de vida adotado teria uma influência bem maior do que a constituição genética. De acordo com estudos, mulheres japonesas que nasceram e vivem no Japão, correm um risco 25% menor de desenvolver câncer de mama do que as mulheres americanas nos Estados Unidos. No entanto, a terceira geração de mulheres nipo-americanas apresentam o mesmo índice de casos de câncer de mama das americanas. Algo semelhante ocorre no Brasil. Imigrantes japonesas e seus descendentes apresentam uma maior incidência de câncer de mama do que as japonesas residentes no Japão. Cientistas atribuem esse fato ao maior consumo de carne vermelha e derivados do leite entre os nisseis. A diferença na dieta também explicaria por que os tumores de estômago são mais freqüentes entre os residentes no Japão do que entre os imigrantes. No Japão as pessoas consomem menos fibras e mais sal.
Prevenção e cura Embora ainda não se tenha desvendado inteiramente como os carcinógenos desencadeiam um câncer, os cientistas sabem distinguir melhor o potencial de cada categoria. De modo geral, o fumo e os hábitos alimentares são as principais causas de câncer nos países desenvolvidos. Nos países em desenvolvimento, os casos resultantes de agentes infecciosos são os mais comuns. No entanto, o aumento do consumo de cigarros, charutos e cachimbos no mundo poderá em breve tornar o fumo a principal causa de câncer nessas regiões também.
Apesar de úteis para estabelecer medidas preventivas e determinar objetivos de saúde pública, os estudos epidemiológicos não podem prever o destino de um indivíduo. Um fumante inveterado talvez não desenvolva câncer de pulmão, um portador do vírus da hepatite B talvez não tenha câncer de fígado e muitos que seguem uma dieta pesada e pouco saudável poderão viver mais do que outros que comem bem e moderadamente. Somente uma exposição excessiva à radiação ionizante e a substâncias tóxicas elevam o risco de alguém desenvolver câncer, visto que é necessário haver uma interação de múltiplos fatores para o desenvolvimento de um câncer. Os cientistas continuam trabalhando incessantemente para descobrir como os carcinógenos agem. Talvez em breve consigam a cura ou pelo menos um método eficiente de prognóstico e prevenção para todos os tipos existentes. Por ora, certos cuidados que relacionamos abaixo podem ser de grande valia tanto para prevenir o câncer como para viver mais e melhor.
Dez dicas para se proteger do câncer
1. Pare de fumar. Essa é a regra mais importante para prevenir o câncer.
2. Uma dieta alimentar saudável pode reduzir as chances de câncer em pelo menos 40%. Coma mais frutas, legumes, cereais e menos carnes e alimentos gordurosos. Sua dieta deveria conter diariamente pelo menos 25 gramas de fibras, e a quantidade de gordura não deveria ultrapassar 20% do total de calorias ingeridas.
3. Procure abrir mão totalmente ou limitar a ingestão de bebidas alcoólicas. Os homens não devem tomar mais do que dois drinques por dia, enquanto as mulheres devem limitar este consumo a um drinque. Além disso, incorpore a prática de exercícios físicos à sua rotina. Exercite-se de forma moderada pelo menos durante trinta minutos, cinco vezes por semana.
4. A mulher deve fazer um auto-exame das mamas todo mês. Com 35 anos de idade a mulher deverá submeter-se a uma mamografia de base, com quarenta anos, uma ou duas mamografias de segmento e a partir dos cinqüenta anos uma mamografia anual.
5. A mulher a partir dos vinte anos deverá submeter-se anualmente a um exame preventivo do colo do útero (Papanicolaou).
6. O homem deverá fazer um auto-exame dos testículos todo mês.
7. Homens e mulheres com mais de cinqüenta anos devem solicitar ao médico um exame anual de sangue oculto nas fezes.
8. Os homens com mais de cinqüenta anos devem procurar o médico regularmente para o exame de toque retal para prevenir o câncer de próstata.
9. Evite a exposição prolongada ao sol e use filtro protetor solar fator 15 ou superior.
10. Faça regularmente um auto-exame da boca e da pele."
(Pesquisas Barsa)
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