Olha lá, ó Amigão:
Aqui me atrevo publicamente a fazer-te uma proposta que, por milagre dos poetas todos que estão no céu e gostariam imenso de vir cá abaixo fazer uma visita ao inferno, pode dar num "best seller" de pôr o mundo de boca aberta, empurrando-nos ambos para a fama e, ao mesmo tempo, enchermos os bolsos de cacau euronizante.
Tu sabes bem que eu, genericamente, não gosto de polícias, embora, como em todas as coisas, a excepção volte sempre a regra de pernas para o ar.
Observa então atenta e absorvidamente a luminosa ideia, a genial proposta e, sobretudo, a minha capacidade artificial de inventar o sonho.
Tu, numa espécie de agenda de que te munirias para recolher os diversos efeitos, reservarias diariamente 15 minutos a apontar o resumo das ocorrências e pormenores que te surpreendessem durante o tempo de serviço dia a dia, por exemplo, aquilo que porventura achasses bonito ou feio, digno ou indigno, corriqueiro ou espectacular.
Depois, periodicamente e através de e-mail, enviarias os conteúdos que eu trataria de ajustar, de adornar e sobretudo tornar apaixonadamente policiais. Bem, se pelo meio, também munido de uma máquina fotográfica, captasses algumas significativas imagens, isso, seria, como é soer dizer-se, sopa no mel.
Além dos teus policiais passeios e eventuais intervenções, nos períodos em que as garotas também se prendem aos teus olhos e tu entras em conversa, claro, isso também é material que faz parte integrante da memória, porque lhe dá imensa luz. E se a conversa se prolongasse, acabando por gerar uma daquelas cambalhotas, também em prolongada extensão, daquelas em que um tipo, prolongando-se, vai ao céu falar com as poetisas e os poetas para levar-lhes boas notícias, isso então, Pedro, anima pra caramba a trama policial e enriquece imenso a envergadura de um agente às direitas. Celebraliza-o até muito mais do que o sacrificado empenho no cumprimento do dever.
Que dizes, Pedro? Eu, a escrever, como o Júlio Verne, um livro por mês... Imagina um milhão de Leitores a 20 euros... Num ano estarias no topo da vida... Em dois anos, ena pá, como estaríamos então? No terceiro ano eu morreria feliz com um ataque cardíaco a escrever por baixo de uma boa matrona e tu, naturalmente, ficavas com o dinheiro todo... Ah... Ah... Ah...
Olha só o modelo do "best seller":  Ai... Pedro-Pedro, tu que conheces um pouco das coisas que eu fiz a brincar e, afinal, saíram e deram a sério, se considerares a ideia linda e com pernas para andar, bem, Amigão, não custa nada começarmos a brincar para dar mesmo e propositadamente a sério. Como constatas sou um ficcionista mais ou menos razoável.
Estás neste momento a rir?!... Então ri e praza que a tua vida sorria sempre avante.
Um abração e até um destes dias na velhinha Sé par matarmos saudades e revigorar aprazivelmente o alento até vermos nitidamente a trémula luzinha do "Rabi dos Temulentos".
António Torre da Guia |