Hoje, depois de sofrer 90 minutos com a cadência morosa da selção brasileira na Alemanha, resolvi escrever uma carta dirigida aos vultos que a gente só vê uma vez na vida: o artista de rua francês pintando seu quadro triste em Montmatre; a menina do rosto rosado na cidade de Gramado, olhando distraída a lojinha de malhas; o vendedor de uvas na estação de Baturité; a lavadeira de braços vigorosos batendo a roupa de modo barulhento nas pedras às margens do Rio Poty; a velhinha de olhos contritos rezando o terço na igrejinha de São Benedito; a colegial americana flagrada, como se diz, em ondas curtas, pela câmera curiosa do meu filho caçula em San Francisco...todos componentes anônimos do grande mosaico da vida que eu, para completar, aponto o beija-flor de asinhas ligeiras, adejando sobre as flores, enquanto eu, preguiçosamente, na rede de tucum, na varanda da fazenda, olhava demoradamente para aquela belezaq esvoaçante, que enche os nossos olhos de encantamento, mostrando uma vez mais que o espetáculo da vida, com entradas inteiramente grátis, Deus nos prepara cotidianamente, só o que é preciso é ter olhos para ver e sentimento para guardar nos refolhos do coração. Ufa!