Meu caro roqueiro Jairo Jhade Galahade [pseudônimo poético de Jayro Luna na década de 80], foi com prazer e curiosidade que recebi o seu pequeno volume de poesias intitulado misteriosamente de Bagg’Ave. Não sei ainda o que significa, mas me parece ser uma palavra cunhada por você, me traz sonoridades como Baghavida Gita e bagagem. Percebi o cuidado que você tem com o vocabulário, palavras como “florchameja” (recuperação de vocábulo do Sousândrade), “briluze”, “protexto” demonstram esse trabalho. O artifício de suas rimas, como no poema “Hendrix”, a recuperar para o contexto da contracultura uma sonoridade mallarmaica: ônix, fênix, mandrix, mix, cálix, hendrix. Esse mandrix, já por si um dos mais famosos trocadilhos contraculturais. E, ainda, a fênix colocada entre a rima de físsil com míssil, tudo a ver no caso do apocalíptico Hendrix.
O seu “Rock Barroco” é um dos melhores poemas que li dos marginais nos últimos tempos. Um palimpsesto de caráter barroco, com sutilezas vorazes vindas de Gregório de Matos. Você sabe ao que me refiro, seu poema foi construído, tomando por base estrutural sintática um poema do boca do inferno, mas você o recria num contexto paradigmático completamente novo, surpreendente, inusitado. Aquela metáfora das cordas de guitarra com a linha do trem e a nódoa do jeans nos apresenta uma imagem que eu diria caleidoscópica. Aliás o poema “Caleidoscópio” sabe brincar com o ritmo das imagens do referido objeto por meio de repetições rítmicas e vocabulares. Esses são apenas alguns exemplos que fazem com que eu o aclame como o mais novo poeta paulista do rock’n’roll. Espero que os caminhos da poesia sejam para você uma espécie de pé na estrada com direito a definição de itinerário.
(Curitiba, jun./85)
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Nota:
1.Carta datilografada em papel fino, sem data, autografada. A data provável é a partir do envelope do correio, ilegível quanto ao dia.