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Cartas-->SINCERIDADE, SEMPRE... -- 04/07/2006 - 16:40 (Ivone Carvalho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A QUEM ENGANAS?
(Ivone Carvalho)


Não, não digas que fui a pior coisa que aconteceu em tua vida! Não mintas para ti mesmo! Tu, tanto quanto eu, sabes que se isso fosse verdade terias derrubado qualquer meio de contato comigo, terias emudecido desde o começo, terias me afastado sem pestanejar, não terias mais procurado por mim, não buscarias o que escrevo, não estarias me ouvindo agora, não terias estourado a memória do seu computador com arquivos que me dizem respeito, não terias vasculhado minha vida, não terias buscado respostas que procuravas, certas ou erradas, em outras pessoas, não terias perdido teu precioso tempo, teus dias, tuas noites, tua ternura, com alguém que tivesse sido o pior que aconteceu para ti e com a pior pessoa que cruzou o teu caminho, alguém que só te desse infelicidade. Não, o masoquismo passa a léguas de distância de ti! Quantas vezes afirmaste isso?

Chega! Chega de mentires para ti mesmo, pois a mim não enganas, como jamais enganaste!
Uses as palavras que quiseres para reduzir-me a nada, se isso te faz tão bem, mas não as use de modo a te revelares cada vez mais como um ser que não tem coragem de assumir os próprios sentimentos, de aceitar a própria verdade, de confessar os próprios erros, de ser humilde o bastante para dizer o que pensa ou sente sem ter necessidade de desvirtuar a verdade, de negar os valores que sempre foram importantes para ti, de revelar os sentimentos que existiram e os que existem em ti, de teres, sempre, omitido o que te interessa, revelando tão somente o que vale a pena.

Não! Não permitas que o anonimato, o virtual, u’a máquina modifique tua essência, tua dignidade, tua ternura, tua sensibilidade, tua consciência, tua honra, teus sentimentos, tua inteligência!

Ah! Não uses palavras que não são do teu feitio, que não combinam contigo! Não sejas infantil, grosseiro, atrevido. Mentires para mim em nada modifica os meus e os teus sentimentos, mas podem modificar a paz que poderia existir entre nós, que existe em cada ser, quando existe diálogo franco e sincero, sem qualquer tentativa de machucar o outro, sem que se utilize o instinto pérfido que, às vezes, tenta explodir de dentro de nós, como se fossemos selvagens, ignorantes, cruéis.

Ah! Não me culpes por te amar! Tampouco te sintas um deus só por causa disso! És homem como qualquer outro, assim como sou mulher como qualquer outra. E tu sabes, tanto quanto eu, que não somos nós quem escolhe o ser que assumirá o amor existente em nossos corações. Ames a quem teu coração determinar, mas não te julgues no direito de aviltar o coração de quem te ama! Quem te ama não precisa da tua piedade e muito menos das tuas ofensas ou das tuas palavras torpes ou vis. Aliás, quem te ama não precisa de nada de ti, senão da tua compreensão e da tua alegria por te saberes amado também por quem não amas ou nunca amaste. Isso apenas te prova que tens méritos, que soubeste conquistar, inda que não tenhas sabido manter tua conquista.

Ah! Não jogues fora o que conquistaste! Lembra-te do Pequeno Príncipe? És responsável por quem cativas! Claro que não atribuo a ti qualquer responsabilidade, mas ficaria sim, muito feliz, se ao menos não te visse desdenhando da forma como desdenhastes, o amor que te ofereci, que te dei, que te revelei. Ficaria feliz, sim, se te visse assumindo o que determina a tua alma, não tratando um ser igual a ti, como um objeto inútil e fútil. Por que pensas que me tratando como se fossemos adolescentes, ou pior, como crianças, tu modificarias os meus sentimentos?

Creio firmemente que até a juventude de hoje não trata o jovem com quem apenas “ficou”, da forma como ages, dizendo impropérios ou desmerecendo o outro, ou dando as costas, batendo portas, gritando impropérios. O amor faz alguém merecer o destrato? Por que não derrubaste todas as pontes no momento que te conscientizaste que fui o pior que aconteceu em tua vida? Ou será que esta conscientização ainda não chegou? Ou chegou tão somente agora, depois de tanto tempo? Sabemos que chegou, sim. Mas não a conscientização de que fui o pior que aconteceu em tua vida! E, para chegar, seria preciso agir com tamanha deslealdade, usando mentiras até para ti mesmo?

Não! Eu não quero o amor de quem não sabe amar! De quem nunca soube me amar! Basta-me amar-te e desejar que sejas feliz, sem mais mentires, sequer para ti mesmo! E quando me refiro a mentiras, não me atenho à tua atual (ou permanente?) falta de sentimentos de amor por mim, mas a todo o resto, até mesmo quando estes existiam e tu não os admitias, negando o que teus atos e tuas palavras tão clara e veementemente demonstravam. És humano, não te esqueças disso, mas também não te esqueças que em matéria de inteligência e sensibilidade, nenhum de nós perde para o outro...

****


Nota da autora: a presente carta não tem destinatário definido. Ou terá?
Mas, se tivesse, nota-se, pelo conteúdo, que jamais seria lida por ele...Ou será?

Que maravilha é a arte de escrever! O escritor, muito mais do que extravasar a própria alma, tem a capacidade de dizer o que tantos dos seus leitores gostariam de falar ou precisariam ouvir. As mensagens recebidas me dão sempre essa certeza! Obrigada, caro leitor!

04/07/2006
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