Talvez falando sobre mim
não seja essa coisa óbvia de "me entendam"
Eu me apóio no "eu lírico"
E sei - e como
Seu discurso é normativo
Você pretende alcançar uma verdade
geral, universal
Meu discurso é em primeira pessoa
As verdades que digo são minhas
Fruto das minhas construções
Assim como as canções
Assim como as novelas
Assim como os filmes
Meus poemas são uma verdade delimitada e particular
E a publicação deles...
Talvez eu não queira ser tão admirada
Porque a mim basta o prazer de escrevê-los e lê-los
E mais: de vivê-los
Talvez não me interesse corrigir as possíveis leituras
que as pessoas fazem do que chamo de meu mundo
Eu quero que quem leia o faça de modo particular, intimo
na solidão de seu mundo
Eu quero que outros eus se identifiquem, se reconheçam, se descubram
Quanto à minha falácia sobre estética...
A estética de meus poemas é algo como canção
Não posso deixar de ter ritmo
Não posso deixar de cantar palavras,
nem de fazer jogos de palavras fazendo com que elas - as meras palavras -
adquiram nova configuração
Elas que ecoem no mais fundo das impressões
Eu pego o que está pairando no ar
E roubo pra mim
E imprimo nos poemas essa minha experiência
Estamos nos escondendo demais por trás de supostas opiniões literárias