Não são as flores, que freqüentemente ornam os meus dias, as responsáveis pelas emoções que o meu coração experimenta. Flores são, talvez, as mais belas criações do Pai, vez que unem num único exemplar a soma de tantas belezas: o perfume, a cor, a imagem, a vida, o sentimento, a alegria, a poesia, a criação.
Tampouco são as palavras que, de forma poética, tocando profundamente a alma, revelam o misto de sensibilidade, altivez, energia, paixão, saudade, bem-querer, permitindo que o seu conjunto transmita a essência de um coração terno, encantador, que transborda os mais puros sentimentos. Palavras como essas são sabiamente pronunciadas por todos os seres que amam ou que desejam extravasar o que sentem e até mesmo por todos que pretendem conquistar alguém que, de alguma forma, lhes faz bem ou lhes interessa.
A propósito, você já notou como são parecidas as poesias e os textos das pessoas que falam e cantam o amor? Mudam as rimas, a posição das palavras, o formato dos versos ou do poema, mas, na essência, são todas muito iguais. Todo poeta busca inspiração nas estrelas, na lua, nas flores, no vento, na brisa, no mar, no sabor de um beijo, no palpitar de um coração, no afago de um abraço, nos anjos celestiais, na esperança, na lágrima, na alegria, na dor. É possível até que ao compararmos poesias notemos o quanto elas se encaixam, como se respostas fossem. Quantas vezes temos a impressão de que um poema ou um texto qualquer foi escrito para nós ou sobre nós? Quantas vezes ficamos com a convicção de que nossa alma foi lida pelo poeta ou pelo escritor? Nem lembramos, nesse momento, que ele é um ser humano como nós e que tem sentimentos como os nossos, qualquer que seja o gênero ou o tema escolhido ou inspirado. Mas nos vemos ali, possivelmente porque queríamos ouvir o que estamos lendo ou queríamos que aquilo que foi escrito tivesse sido inspirado em nós ou para nós. Ou ainda queríamos ter tido a capacidade ou inspiração para retratar, como o poeta, aquilo que ele retratou e que cabe tão bem dentro dos nossos sentimentos. Isto também é ser gente, ser sensível, ser amor, ser vida, ser poeta!
Sabe, também não é a sua presença ou ausência, o seu silêncio ou o seu cantar, que transformam os meus dias, colocando mais luz nos meus caminhos, apontando os que eu devo seguir, ensinando-me as lições que a vida tem para nos ensinar, fazendo-me crescer e amadurecer a todo instante, entendendo, cada vez mais, a finalidade da nossa existência e os motivos que colocam as pessoas cruzando o caminho de outras, aparentemente sem objetivo Divino.
E nem é preciso que eu diga que não faz diferença se você diz ou não que sou importante e especial para você, se sou ou não um presente que os Céus lhe enviaram, se está ou não pensando em mim, se lembra de mim, se sente saudade, se a minha presença lhe encanta ou lhe sufoca.
Porque a grande e única verdade é que tudo isso, desde as flores até a ternura das palavras, desde a presença até um silêncio aparentemente absurdo, desde os carinhos até a indiferença, enfim, todo esse conjunto é que demonstra a realidade que tantas vezes queremos negar, que tantas vezes não percebemos, que tantas vezes não questionamos, que tantas vezes nos torna obsessivos positiva ou negativamente e que tantas outras poderão transparecer uma indiferença que, se existisse e fosse real, sequer nos levaria a qualquer busca, ainda que sob o pretexto de apenas “passar tempo”, descobrir como estamos, o que temos feito, o que andamos pensando, o que temos escrito, por onde andamos, o que fazemos.
Diz a música que “a vida me ensinou a lutar pelo que é meu”, mas o que será meu? Às vezes me pergunto se somos donos de alguma coisa. Minha resposta é incontinenti: somos sim, donos dos nossos pensamentos e dos nossos sentimentos. Apenas a nós eles pertencem e ninguém os consegue demover ou modificar. E logo outra questão se afigura na minha mente: como posso ser proprietária do que penso ou sinto se é a você que tudo isso pertence? Se penso em você, se gosto de você, será você o dono daquilo que sempre julguei pertencer a mim?
E quando os pensamentos divagam ou se concentram num problema, numa situação, numa outra coisa qualquer, num ser querido, numa lembrança, num objetivo, num projeto, a quem eles pertencem, senão a mim?
Bem, não era isso que eu queria abordar aqui, mas os devaneios vão surgindo à medida que vou escrevendo e, se não tomar cuidado, acabarei não dizendo o que realmente pretendia.
Então, vamos lá! Tudo que eu queria lhe falar quando comecei, se resume em algo muito simples, que dispensa conjecturas, meditações, vocabulário, rimas ou qualquer outra coisa que faça o tempo passar sem que você ouça algo de verdadeiro e objetivo.
Tudo que eu quero que você saiba é que não é preciso nada, senão você continuar existindo na minha vida da forma como existe dentro de mim, porque o brilho que existe nos seus olhos ou mesmo as lágrimas, porque a alegria que existe no seu coração ou mesmo a dor, porque as palavras bonitas que tocam a alma ou mesmo o silêncio, enfim, tudo me faz saber que você existe e que está em mim e isso me dá vida e disso não abro mão!