Catania, Junho de 2003
Pequeno doce amor,
Enquanto tu dormes o meu pensamento corre em direção a ti para encontrar-te, bem como encontrar os teus sonhos.
O meu dia se abre com as primeiras horas da manhã quando ainda a aurora não rasgou o céu e os primeiros clarões não pousaram sobre a terra.
É aquele primeiro momento em que a luz anuncia o aparecimento do sol, sinalando em mim a primeira hora do relógio da vida.
É nesse momento que ordeno a seqüência das coisas que farão parte do meu dia.
Como uma criança que brinca de atirar pedrinhas à margem de um rio eu estabeleço o lugar, na minha mente, a todas as coisas que viverão comigo no decorrer da minha jornada, até quando o sol se põe e deixa seu lugar às estrelas.
Minha Clara, antes que tu chegasses a teu lugar dentro do meu coração, lugar esse assinalado com o número um, havia só o meu pensamento que te buscava, te procurava. Hoje eu sei que quem assenta nesse lugar assinalado com o número um, és tu. Do número dois em diante transcorre normalmente minha jornada, exaurindo todas as outras coisas. Vês? Só tu és importante para mim.
Tu és meu primeiro pensamento do dia que nasce e o último pensamento antes de eu ir ao encontro do sono da noite. Eu nunca penso em mudar a ordem dessas coisas porque a natureza ensinou-me que em tudo existe uma ordem: existe um primeiro e um último, assim como existe um agora e um depois.
É por este motivo que eu nunca digo ao meu número um: “Espera-me, depois eu volto para te ouvir”. Isto significaria colocar no lugar do número um, um outro número, isto seria péssimo.
Eu corri e recorri atrás de um sonho na minha vida, e agora penso que aquele sonho tenha se tornado realidade, ao menos no meu coração. E se tudo for verdade, quer dizer que finalmente, depois do meu peregrinar é chegada minha desejada e definitiva parada em busca do amor.
Tu sabes com quanta alegria ti acolhi no momento em que bateste à minha porta para dizer-me que tu eras a mulher amiga que eu procurava. Ti abri a porta e entrastes no meu coração. Este foi um evento mágico para mim, um momento de reviravolta, uma guinada que marcou a minha vida e que espero seja verdadeiro e como tal permaneça.
Porém se tudo isto não for verdadeiro, minha Clara, eu fecharei para sempre aquela porta por onde entrastes e desse nosso encontro escreverei uma outra história; uma história triste, como tantas que tem acontecido ao longo da minha vida.
Escrevi duas significativas cartas, de conteúdo intenso, cheias de poesia, doçura, como também de desejo, expectativa e de promessas. Esperava de ti uma explosão de alegria, de felicidade, de poesia. Esperava uma resposta imediata, mas nada disto aconteceu. Tua resposta chegou num outro dia e o conteúdo era tão pouco que me pareceu pequenos cristais de gelo que me feriram os olhos e a alma.
Não ti reconheci naquela mensagem, minha doce Clara.
Como todo artista, eu sou imediato como uma criança. E como tal, não gosto de esperar.
Teu Enzo
(Carta da série “Um amor siciliano” o lindo amor por correspondência, vivido por Clara e Enzo.)
Hull de La Fuente
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