Visitando meu velho, olhando-o tão alquebrado, cochilando enquanto eu conversava com minha mãe, não pude evitar a torrente de recordações que me invadiu o peito, mesclada de ondas agudas de saudades, deixando um nó na garganta e uma pungente dor no peito.
Recordei, então, passagens marcantes da minha infância, nas quais a sua figura preponderava como uma guia seguro para as minhas expectativas, quando ele vinha conversar comigo sobre a guerra, deixando-me a par, eu tão verde ainda, dos conflitos que inundavam de sangue e terror o velho mundo: Montgomery, Eisenhower, Churchill e, de quebra: os Spitfire, os Hurricane...Tanta coisa!
Um mundo de recordações, as poesias, o português correto, a frase bem colocada, os conselhos, as compras de Natal, a viagem de caminhão para Sobral...tudo tão nítido que nem parece que os anos despencaram num alude gigantesco, como se quisesse conduzir tudo para o esquecimento...
É a vida desfilando diante dos meus olhos. Entre o menino e o homem maduro de hoje quanta coisa aconteceu, quantas experiências doces e amargas...o noivado, a formatura, o casamento, a alegria de ser pai...Das amargas eu nem desejo lembrar para não sofrer duiplamente.
Tudo acontece numa velocidade estonteante. A vida é uma sucessão de cores e de episódios que se sucedem rapidamente, deixando apenas retratos na memória, cenas, momentos, quadros, marcos que a gente procura refazer e manter os traços vivos e inapagados, para que nos fiquem as referências, como as que agora procuro deseperadamente reavivar, lembrando a figura do meu pai, na qual eu presto homenagem aos pais, a todos os pais...