Humberto de Campos, lendo a notícia que uma jovem e bela senhorita havia tentado o suicídio, afirmando que perdera todo o encanto de viver, fez uma carta para a moça que havia tentado o resloucado gesto, mostrando-lhe que ele, combalido por enfermidade, cansado e frustrado por tantas decepções, tendo motivos de sobra para fugir da vida, no entanto, aferrava-se a ela, porque a vida tem os seus fascínios, a sua magia, a sua beleza.
Há pouco, deparei-me também com a leitura de um trecho pessimista em que a autora praguiejava contra a vida, não via a hora de morrer, embora não tivesse a coragem de praticar o suicídio, no entanto, rogava aos céus que a inimiga da vida viesse logo tirar-lhe deste mundo insano, repleto de traições, desencotros, desamor, decepções, amarguras, frustrações, dor, pranto, enfim, tuido quantonão presta.
E eu fiquei pensando longamente naquele triste desabafo, imaginando a delicada formação de uma flor, perfumada e colorida, orvalhada, desabrochando num jardim bem cuidado por mãos carinhosas e dedicadas, espetáculo gratuito da natureza que Deus nos proporciona moldura formidável da vida; o sono sereno de uma criança, no aconchego de um berço, promessa de um amanhã radioso para nossa espécie; o brilho faioscante de uma estrela no escuro profundo da noite, anúncio luminoso da bondade infinita de Deus; na chuva, cortina líquida que desce sobre os relvados e sobre o telhado das casas, trazendo vida às plantações e pasto novo para os animais; no vento brando que sobra no meu rosto, contando histórias de muito longe, segredos que só os artistas e os de alma sensível podem decifrar...Não, a vida não é só aquele monte imprestável e indesejável de sofrimentos. Nenhuma dor dura eternamente. O que é preciso, acima de tudo, é paciência para deglutir o tempo, enfrentar os percalços com a cabeça erguida, pois, como dizia o poeta, "o sofrimento é vinho que se depura com o tempo, é como um leito macio para que está com sono e um pedaço de pão para quem está com fome". É isto aí!