A Assembleia da República de Portugal (7/1/2002) esteve em ponto de considerar e estender o exercício democrático do voto a adolescentes, quiçã para tirociná-los face ao complexo (!) da escolha eleitoral. Intentou-se pois contornar o mais sério dos problemas que ora se depara à nossa democracia (ditadura partidária): a abstenção, que ronda a metade dos recenseados, essa silenciosa quase maioria entregue ao ocioso "não vale a pêna" mudar o que só pela força muda.
Quais os tangíveis motivos que impedirão a AR portuguesa de proclamar o voto obrigatório, talvez a mais límpida das obrigações do hodierno cidadão democrático? O que é que deveras impede que todos os portugueses sejam obrigados a escolher entre A, B, C ou nada? A resposta e o motivo são óbvios: está à vista que os caridosos exibicionistas não sobreviveriam à eliminação dos pobrezinhos nem os ditadores subreptícios teriam hipótese de facturar o poder permanente. Que diacho de malefício traria a obrigatoriedade eleitoral à nossa hipócrita sociedade e aos nossos esconsos políticos?
Persuado-me do que muito mais que a gorada ascensão para o Castelo de São Jorge ou a mesquinha travessia pedonal do Douro, o elevador ou a ponte da dignidade democrática carece de urgente construção. Só por aí o nosso depauperado destino colectivo vislumbrará de novo a apetência por um novo destino!